Sabrina758 26/03/2024
Comecei essa leitura de forma despretensiosa e não esperava me deparar com um relato tão cru e doloroso, apesar de saber do que se tratava. Numa narrativa que mistura ficção e realidade, visto que a autora foi abusada sexu4lmente, somos expostos à revitimização pós denúncia, que ocorre de todas as partes; seja a família, justiça, profissionais de saúde, a comunidade, etc.
O despreparo e o descaso são evidentes na maior parte, senão todos, os casos de estupr0. Esse livro é um soco no estômago e a forma como a Belén estruturou faz com que sintamos o desamparo. Os capítulos se intercalam entre o pov da vítima, o abusador, familiares, conhecidos, profissionais e também os depoimentos, de forma que não é declarado previamente quem é, então descobrimos enquanto lemos.
Uma coisa que chama atenção aqui, e é comum nesses casos, é a negligência parental. O lar desestruturado, condição socioeconômica difícil, falta de diálogo, entre outras coisas. O abusador, também, é alguém que tem fácil acesso à vítima, e é uma pessoa de "confiança" e que, através de sua influência, seja poder aquisitivo ou serviços prestados para as pessoas, tem todo mundo na mão, tornando a denúncia ainda mais difícil.
Foi uma leitura que, pra mim, soa como um grito de socorro, mas também uma tentativa de retomar o controle da própria vida. Em vários momentos nos deparamos com o quanto a vítima é enquadrada nessa caixinha, como se não existisse mais nada que ela pudesse ser além disso, o que não é verdade.
Por fim, acredito ser um assunto que precisamos abordar cada vez mais, ainda que seja doloroso e desconfortável. Foi uma leitura difícil de fazer, e seria irresponsável da minha parte dizer qualquer coisa contrária a isso, visto que há descrições explícitas. Ainda sim, recomendo para quem não tiver gatilhos com essa temática.