Arlyton Sil 31/05/2024
História horrivelmente emocionante.
Herdeiras do Mar se passa em dois momentos, em 1943 e 2011 na Coreia do Sul. Em 1943 a Coreia estava sob a ocupação japonesa que reprimia cruelmente seus habitantes, tornando ilegal os coreanos falarem a própria língua e praticar outros costumes. Nessas duas narrativas somos apresentando à duas irmãs, Hana e Emi. Hana é uma haenyeo, que são mulheres extremamente habilidosas em mergulhos em busca de alimentos para consumo como para vender, algo além de uma profissão, mas um modo de vida. Porém, essa vida é deixada para trás após Hana ser sequestrada para se tornar uma ?mulher de consolo?, que na verdade é uma escrava sexual onde é estuprada inúmeras vezes por soldados japoneses. Diante desse sofrimento é narrado a sobrevivência de Hana sendo ainda perseguida por Morimoto, um oficial japonês. Já em 2011 segue a vida de Emi, já uma mulher idosa e haenyeo experiente. Em seus capítulos seguimos sua busca pelo paradeiro da irmã, visto que no meio desse período de tempo elas não se encontraram. Nessa busca ela participa da Manifestação de Quarta-feira com o intuito do Japão reconhecer as atrocidades que fez.
Apesar de uma escrita fluída e simples, a leitura desse livro foi bastante difícil, há passagens extremamente viscerais, não apenas por descrições fisicamente violentas e agoniantes, como também sobre reflexões, saudades, dores da alma. A crueldade dos soldados vai além da carne, deixando feridas muitas vezes incapazes de cicatrizar. E saber que tudo isso foi verdade torna a obra quase repulsiva de ler, mas ainda assim uma leitura essencial por apresentar fatos quase perdidos e desconhecidos.
Contudo a obra não é feita apenas de desgraças e horrores, apresenta-nos essa cultura totalmente desconhecida por mim, as haenyeo, mulheres apaixonadas pelo mar e as coisas que ele oferece. Um modo de vida passada por gerações. E mesmo perante uma violenta invasão, onde o povo é desprovido de tudo, as haenyeo mergulham na busca de sustento e liberdade que elas encontram nas profundezas das aguas.
Nos afeiçoamos por ambas as personagens que são muito bem descritas, não por sentirmos pena delas, mas por serem cativantes e determinadas, incorruptíveis em meio ao horror e o temor, ao ódio e a desesperança. E ainda assim são personas reais, palpáveis, conseguimos visualiza-las, sofrer com elas, torcer por elas, querendo defendê-las, desejando estar ali ao lado delas.
A autora soube trazer uma Montanha-russa de emoções, apresentando acredito que já pode ser considerado um dos grandes vilões da literatura. Além de trazer uma forte mensagem de esperança e de lembrar de onde viemos, que mesmo diante da atrocidade isso pode ser uma forma de sobreviver e desafiar.