Carlos.Vergueiro 02/05/2021
Tal como Guimarães, um eterno convite ao decifrar
Se você quer uma leitura fácil, não leia este livro. A escrita de Luandino é uma das mais difíceis de ser decifrada. Uma poética e estrutura sintática que destoa de seus contemporâneos que contam as guerras. Mas longe do Makulusu em Luanda, um outro escritor dava uma nova forma de escrever a língua portuguesa nos interiores do Brasil, Guimarães Rosa. Luandino fala da luta pela libertação encarcerado em Tarrafal sem ser panfletário. É impressionante a forma, a estética do texto, que nos leva a outros caminhos da arte de contar uma história. A experiência da morte e do luto é nos contada pelo caminho das memórias, dos lugares, das infâncias, dos falares. É um clássico que em uma primeira leitura vai deixar muitas dúvidas, muitas pontas. E que em outras leituras deixará ainda mais. Talvez seja essa a riqueza de um clássico, a sua inesgotável iinterpretação "é um esqueleto que teve um homem vestido, que teve uma zuarte farda vestida, que teve uma vida vestida e a caveira é branca e se eu e a gente nem podemos saber mais se é branco se era negro, não somos anteopologistas, somos quatro, nós, os do Makulusu, acagacados e banzos porque, nesta hora, estamos a nos ver por dentro." (p. 121)