No bairro de Exarchia, em Atenas, certa vez ouviu-se entoar um lema anarquista que dizia: “Quando a polícia chegar, atirem-lhes alguma coisa. Que sejam ramos de rosas, mas que sejam com espinhos”. Mais do que um simples ato de desespero na luta desigual contra a barbárie financeira, este lema explicita o paradoxo da frágil potência humana diante daquilo que a suprime e a quantifica. No contexto estético e político de nossos dias, os poemas de “pelo que a sobrevivência mata” talvez possam ser lidos como algumas destas rosas das quais falavam os dissidentes gregos: são poemas que existem ao mesmo tempo para a beleza e para a resistência, para a contemplação e para o ataque, eles exaltam a vida e tudo o que nela é belo e efêmero, mas seguem sempre munidos de espinhos.
Poemas, poesias