A poesia de Fernanda de Paula transborda nesta obra em toda a sua exuberância, acompanhada das belíssimas ilustrações de Letícia de Paula, em bordados não menos poéticos.
Há um momento profundo de perdição, em que a terra cria uma revolução eólica dentro de suas vísceras, e semeia pássaros de granito, e transborda em araucárias de amanheceres. É a sofreguidão das profundezas. Mas existe poesia que toma o pulso da terra em ardência, e arde em labirintos de paixão. Um fulgor esses poemas de Fernanda de Paula, parecidos com veias de raios da terras encharcada de amor. O peito aberto da poesia mineira me detém em suas metáforas perigosas, como um celeiro de estrelas. Sintoa ardência da voz crua de Anna Akhmátova ao dedilhar os versos em concha de Fernanda. Sinto o amor lascivo de Hilda Hilst nos versos de Fernanda, disfarçados em lençóis, onde escorre o gozo da palavra. A alma da gente cai em orgasmo santo, lendo e relendo. E a arte bordada de Letícia de Paula inventa, na poesia de Fernanda de Paula, o conluio da alma com o arco-íris. Um livro com 30 poemas para rezar os olhos.
de Fernando Coelho
Fotografia / Literatura Brasileira / Poemas, poesias