Como quadros, laboratórios e tabuleiros, nos ajudam a entender o papel dos militares na política brasileira contemporânea
A emergência de um Estado securitário no país tem sido usualmente associada à crescente ocupação de cargos no governo federal por militares após 2016. Esperando os bárbaros analisa o mesmo fenômeno a partir de uma outra pergunta que, por sua vez, descortina um outro arco temporal: onde estavam os militares quando achávamos que eles eram carta fora do baralho
A resposta a essa pergunta passa por entender como as ameaças à segurança nacional foram concebidas e projetadas no terreno pelos militares, de modo a justificar sua presença no território e legitimar o seu papel na sociedade durante o período da chamada Nova República.
Licio Monteiro nos oferece uma perspectiva inovadora, a partir da Geografia Política. Ao lançar mão da metáfora do tabuleiro, o autor decifra a maneira pela qual os militares organizam as ameaças segundo eixos que combinam os pares interno/externo e ordem/ desordem. Quando descreve as operações de combate às ameaças em tempos de normalidade institucional, o livro nos convida a adentrar os laboratórios das Forças Armadas nos quais, a partir de experimentos localizados e replicáveis, forjou-se concretamente o Estado Securitário.
Aliás, a escolha dos lugares de experimentação não é de modo algum aleatória, uma vez que os atores de Esperando os bárbaros operam, sobretudo, nas margens dos sistemas territoriais. Os confins da região amazônica, as favelas cariocas, a experiência haitiana e a zona de fronteira com a Bolívia e o Paraguai compõem os quadros geográficos que nos ajudam a entrever aquilo que alguns desejariam ocultar, e a pensar, em retrospecto, o que parecia inconcebível.
Letícia Parente Ribeiro (UFRJ) e Rebeca Steiman (UFRJ)
Geografia / Sociologia