Dias medidos em xícaras de café

Dias medidos em xícaras de café Gabriele Rosa


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Dias medidos em xícaras de café





dias medidos em xícaras de café não é um livro sobre o tempo, não é um livro sobre medir o tempo, não é um livro sobre a louçaria nem sobre café.

Tendo a acreditar que este é um livro de observação e ponderamento. A observação que advém do contato constante com o conhecido a ponto de enxergá-lo com olhos de surpresa. E o ponderamento a ela atrelado — um pensar profundo sobre aquilo que se acreditou escrutinado ao esgotamento, porém tinha ainda uma barreira superficial a ser rompida para que se pudesse chegar à origem.

Como acontece com todo objeto cotidiano quando fica muito mais à frente dos olhos do que de costume: começamos a criar desenhos a partir das ranhuras. Imaginar a feitura do parafuso amarelado que segura a alça da chaleira de metal meio amassada no canto não sabemos muito bem como, se foi a gente que amassou ou comprou desse jeito; ou como aquela mancha avermelhada apareceu no canto da cortina recém-comprada, será um defeito de fabricação?; por que a estampa do sofá não é simétrica?; de quem é a marca de mão que não tínhamos ainda reparado no vidro da janela?

Quando analisada à exaustão, toda cotidianidade levanta mais perguntas que respostas. Subitamente, sozinhos em casa, não tínhamos mais a capa de distração que nos afasta constantemente do contato profundo com o mais profundo de todas as coisas. Não restou saída senão mergulhar.

Gabriele mergulhou. Seu olhar detido sobre cada objeto aparentemente banal do cotidiano se mistura ao olhar igualmente demorado sobre questões maiores e universais. Sua escrita rápida parece listar tudo aquilo que lhe está diante dos olhos, e assim somos bombardeados com bule, abajur, costelas-de-adão nas paredes, páginas em branco, ansiolíticos, pele, saudade, desespero, saudade, a condição da mulher, o corpo, saudade, a violência, o desejo, sono, café e um pouco mais de saudade.

Conheci que toda sutileza é pessoal e intransferível porque vivenciada por um corpo igualmente intransferível, no qual cada ser humano nesta terra nasceu e vai morrer sozinho. Um corpo frágil e quase desabitado, solidão primeva, sempre em busca do contato com outras solidões, sempre atravessado pela potencialidade da morte em cada arroubo de vitalidade, essa finitude desordenada.

É com ele que sentimos o todo de estar no mundo, é por meio dele que tomamos o risco e o tornamos palavra.

Para com ela dar de comer e beber a nossa memória ao amargo assustado dos dias.

Medidos em xícaras de café sim, mas adoçados com a coragem do verso.

[Milena Martins Moura]

Literatura Brasileira / Poemas, poesias

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on 25/8/23


?Dias medidos em xícara de café? da escritora Gabriele Rosa, é um daqueles livros de colher o grão na fazenda, no sítio e beber com calma sentindo o passar do tempo e do silêncio do interior. A observação literária que a escritora faz vai além do preparo e da origem do café, que são as matérias primas para dar significados aos seus poemas. O seu recurso é o ponderamento e o amadurecimento de uma escrita de filosofia de nossos costumes. O que acontece com as louças, objetos, a pratari... leia mais

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Mariana - @escreve.mariana
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Mariana - @escreve.mariana
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