A deseducação sexual

A deseducação sexual Marcelo Bernardi


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A deseducação sexual





Dentro da definição escrita por Nass ( Weder opfer noch Tater richtige Sexualerziehung, Wiesbaden, 1967 ) “Educação: processo que molda o aluno, preparando-o para viver em harmonia com as regras da sociedade na qual está inserido”, é que vive hoje nossa sociedade. O centro da educação sexual tornou-se o casal legitimamente unidos em matrimônio. A contenção do potencial sexual dos solteiros, foi a dessexualização, que substitui a idéia do prazer, pela idéia do “dever”.

A estratégia da nossa educação sexual traduz-se em colocações marginalizantes e neutralizantes. O educando é uma mistura de perversão e inocência, e no que toca a sexualidade da criança é seguramente perversa, havendo por parte do educador crianças luxuriosas e assexuadas, que acentua o vício e a nega a sexualidade dos pequenos.

A família imprime uma estrutura psíquica aprovada pela sociedade. A escola submete o aluno aos objetivos da família: respeito pela autoridade, obediência, encobrindo as contradições, eliminando a potencialidade criativa e autônoma que ainda possa existir no aluno. Os cientistas, ou pessoas com uma formação especializada, como os médicos, rejeitam idéias novas, e as pessoas confiam neles porque os consideram objetivos, racionais, equilibrados e acima de qualquer polêmica ou de qualquer preconceito.

A política defende a família e o matrimônio, tanto no topo quanto na base dos movimentos de trabalhadores, existem pessoas que rejeitam tudo aquilo que, para elas, é “anarquia sexual”. A educação sexual é hipócrita. Atos impuros são cometidos sem nenhum impedimento, e condena-se a impureza.

As prescrições da ética sexual fundam-se sobre o conceito de Natureza, ou de “Leis naturais”, mas não se conhecem esses termos e Bernardi não entende como uma pessoa pode ser imposta a uma determinada conduta sexual em virtude de uma revelação divina e de uma lei natural incerta e esfumaçada.

Para a maioria das pessoas educar quer dizer amestrar a criança para que se comporte conforme as exigências de um costume considerado médio e normal. Vivemos constantemente da recusa da sexualidade. Uns culpam a religião, outros a burguesia. A culpa generalizou-se com o pecado, que sepultou a sexualidade e produziu a recusa do corpo.

As bases operativas da anti-sexualidade foram a história, que relata como a figura do homem é e deve ser transmitida, a instituição que consente-se em um exercício de poder consoante com as exigências de um sistema autoritário e o trabalho que impõe a sublimação, sentimentos humanos transmitidos para outras áreas, bases essas que parecem invencíveis. Nesse complexo a instituição pré-escolhida para aniquilar a sexualidade foi o casamento, este necessário para a conservação de um regime burguês-autoritário. Para o autor, o matrimônio é o principal caminho para a anti-sexualidade, não havendo lugar para uma individualidade brilhante demais, e do ponto de vista social é mais um instrumento de separação mais que de união, pois impõe um emprego puramente genital do sexo de forma a transformar a sexualidade em trabalho.

A anti-sexualidade transformou-se em condição habitual e universal e o homem tem medo da sexualidade, tem medo de ser feliz.

Bernardi acredita que a liberdade sexual é de fundamental importância para qualquer homem, e que o direito a tal não pode ser legitimamente contestada. Mas é difícil opor-se à realidade imposta, porque a oposição fere a realidade ordenada e empurra a sociedade para o caos, a adaptação a uma condição contraditória é frustrante e mobiliza o indivíduo à angústia.

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