Variáveis do amor

Variáveis do amor Ariel Yoshida


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Variáveis do amor


contos, encontros e despedidas




Diversas histórias de amor.
Dor. E também solidão.
Há amores que não sobrevivem ao teste do tempo e amores que envelhecem juntinhos.
São contos sobre a necessidade de se sentir sendo parte de algo; sobre sentimentos de pais e sobre sentimentos de filhos.
Há encontros, desencontros, incertezas e abandono. Vez ou outra uma pitada de humor. Lembranças felizes e arrependimentos.



Início do primeiro texto:
Duas semanas depois de minha avó falecer, meu avô teve um infarto.
Fiquei desesperado ao receber a notícia. “Coitadinho. Que lástima para nossa família! Uma tragédia atrás da outra! A bruxa está solta ao nosso redor!”. Corri ao hospital para visitá-lo.
Quando entrei no quarto fui surpreendido pelo seu sorriso banguelo acima da cama branca. Ele não está abatido como estava no funeral de sua esposa.
Cumprimento-o com um beijo na testa.
- Que susto que você me deu, senhor! – digo, brincando.
Sento-me na cadeira de visitantes, de frente para ele.
- Por que susto, abobalhado? – a voz dele é bem rouca, a fala é bem devagar – já tenho oitenta e cinco anos.
Dou uma risada. Ele sempre bem-humorado.
Respondo-lhe dando de ombros.
- Susto leva eu! todo dia ao acordar e constatar que – ele tosse - ainda estou aqui nesse receptáculo de abobados.
Desato a rir.
Espero chegar na idade dele com esse humor afiado.
- Como está, hein? – pergunto, com carinho.
- Olha... – ele engole as palavras e seu tom divertido dá lugar à fragilidade -, eu estou esperando a boa vontade de Deus me levar logo de volta para minha velha.
Fico sem palavras e me limito a observar uma expressão de tristeza se formando entre as rugas de seu rosto.
- A saudade dói tanto. Mais do que qualquer linguagem poderia descrever. Não vejo a hora de reencontrá-la entre os anjos.
As frases saem sinceras, emocionadas; soam-me como um desabafo.
Um flash passa na minha memória. Eu pequeno na casa deles. Meu avô animado com o futebol, enquanto minha vó resmungava sobre a inutilidade da partida - depois nós três rindo. “Esse velho tem sorte de ter todo o meu amor”, certa vez ela disse, antes de dar um beliscão no braço dele. “Que foi, doida?”, foi a interrogação emitida por ele. “Tira desse filme chato. Bota logo na minha novela aí”.
Ambos cheios de energia, viviam para lá e para cá. Gostavam de passear no parque. Gostavam tanto de conversar. Adoravam a oportunidade de ouvir novamente as músicas de suas épocas. Tinham dificuldade em se lembrar dos nomes. Eu pesquisava por canções antigas e lhes enviava. Quando reconheciam, ficavam eufóricos. “Essa música eu dancei com teu avô em uma festa lá nos anos 70”. Contavam histórias e mais histórias.
(...)
- Você não acredita em anjos, né?
O comentário dele me surpreende. Ele sabe que não. Limito-me a balançar a cabeça negativamente.
- Eu acredito, sabia?
Sim, eu sei. Não respondo com palavras, pois estas estariam embargadas.
- Tua avó – uma tossida, seguida de outra, e mais outra – era um anjo, viu?
(...)

O livro possui 3 partes e mais de 30 histórias.

Contos / Literatura Brasileira

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on 17/2/23


A vida como ela é. Contos e casos que retratam nosso dia a dia. Emoções, sentimentos, aventuras e desventuras bem próximas do que qualquer pessoa pode viver. Personagens que emocionam e nos motivam a refletir realmente sobre a vida como ela é.... leia mais

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