Na margem do rio, cheiro de barro e peixe morto. Gastaram meia caixa de fósforos para acender a vela. O prato flutuou, mas logo se prendeu nas pontas das ramas de um sarandi. Um segurando a mão do outro, com água pela barriga e pelo peito, os guris empurraram o prato em direção da correnteza. E voltaram correndo, sempre de mãos dadas, tropeçando, até o refúgio da casa, da cama e dos cobertores. Sem testemunhas, aquele ato de coragem poderia ter sido em vão. Mas um pescador, um pouco mais abaixo, quase morreu de susto ao ver a vela acesa descendo a correnteza. Então, depois que se recompôs, viu quando a vela girou como num redemoinho, girou, girou, até se apagar.
Literatura Brasileira