Uma Lição de Amor

Pelas paredes da lanchonete ressoavam os acordes de um bolero cheio de sofrimento. Lá fora, na rua, carros passavam apressados, mas o barulho não chegava a perturbar os frequentadores, que conversavam em voz baixa. espalhados pelas mesas, casais, rapazes que deixavam o serviço, respeitáveis senhoras e algumas garotas comiam ou bebiam alguma coisa. De vez em quando, uma gargalhada um pouco mais alta se sobressaltava entre os frequentadores. O sol posto deixava no céu seu rastro colorido, enquanto a noite, em sentido oposto, imperceptivelmente ia surgindo, Ricardo balançou o copo em sua mão antes de engolir um trago de seu conhaque. Seu olhar frio assemelhava-se ao gelo que flutuava em seu copo. Seus cabelos louros, um pouco longos, caiam displicentes sobre os olhos. Ele os tirava dali com um gesto de cabeça para o lado. Era alto, um tanto magro para sua altura, mas no todo formava uma interessante figura. Marina, à sua frente, permanecia em silêncio. Estava de costas para as vidraças, razão porque seu rosto estava coberto de sombras. Apesar disso, pelos seus longos cabelos negros, pela silhueta que recortava contra as vidraças e pelos traços do rosto, podia-se perceber naquela menina em final de adolescência, toques de feminilidade e beleza acima do normal. Suas mão morenas pousadas sobre os joelhos, esfregavam o jeans das calça com violência. Naquele momento, o amor chegava ao fim e aquela conversa marcaria o inicio de uma mudança definitiva em suas vidas. Mas isso seria muito dolorido para os dois.