O que se tem nesta narrativa é uma deambulação, uma vertigem do lugar e do tempo para um escritor e para a literatura num país de ressaca e, principalmente, uma vertigem do sentido de ofício para o escritor e para a literatura. No livro, ficamos diante de um escritor vindo de Minas Gerais Carlos Santeiro aparentemente em crise, como todo o resto ao seu redor, que passa os dias apostando o pouco dinheiro em corridas de cavalos. Carlos é autor de um único livro de sucesso, mora num cubículo em Copacabana e recebe a visita de uma jornalista para uma entrevista. Ela prepara uma reportagem sobre a literatura brasileira produzida durante os anos de ditadura e o que se pode esperar da literatura que se produzirá no agora dos anos pós-ditadura. Esta é de fato a questão, talvez, do romance.
O movimento que Sérgio Sant'Anna dá as suas duas personagens vem no plano de uma ficção emperrada, como é toda a crise desses primeiros anos. Ele arma então uma peça de teatro, um diálogo convulso, tanto na estrutura do texto do romance quanto na composição da conversa que Carlos parece dirigir o tempo todo, como se fosse a tal peça de teatro, deixando Clea, a jornalista, numa situação insuspeita: ele aceitou ser entrevistado porque quer comer a jornalista, ela aceitou ir até lá à noite porque quer ser comida pelo escritor.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance