Trilogia do Gaúcho a Pé

A "Trilogia do Gaúcho a Pé" de Cyro Martins (Box com os 3 Volumes): Sem Rumo - Porteira Fechada - Estrada Nova
Com o transcorrer do tempo, a "trilogia do gaúcho a pé" de Cyro Martins vai crescendo de significado e de importância: Sem Rumo (1937), Porteira Fechada (1944) e Estrada Nova (1954) compõem um vasto painel de uma época em crise, fixando um momento histórico em que ocorrem profundas transformações sócio-econômicas na campanha gaúcha. (...) A "trilogia do gaúcho a pé" tem sido lida como documento de uma época, porque descreve, situa e analisa o processo da marginalização do gaúcho pobre e o êxodo dos habitantes da campanha rio-grandense para a cidade, sob o impacto da modernização na primeira metade do século XX.

"Sem Rumo" (1937) é um romance que trata da miséria social e, ao mesmo tempo, da grandeza de seus personagens em busca da humanidade de seu destino, que mais parece utópica do que real. Em meio às durezas da vida, entregam-se aos amores, à memória, com volúpia e sofreguidão de viver. A paisagem do pampa emoldura os dramas humanos.

Em Porteira Fechada aparece, com fidelidade, a situação marginal do gaúcho a pé, o gaúcho pobre que, dadas as modificações sofridas nos meios de vida do seu ambiente natural - o campo - foi obrigado a refugiar-se, sem eira nem beira, nos arredores das cidadezinhas. Ali perde o interesse pelo trabalho, o gosto de viver, emborracha-se, adoece, morre na miséria. Esse gaúcho desenraizado, inconforme, encurralado no rancherio miserável, é apresentado na figura de João Guedes, que encarna todos os sem-rumo da campanha que vêm dar nos arrabaldes de nossas cidades, onde eles aos poucos sentem que não encontrarão maneiras de subsistir.

Estrada Nova é um romance de Cyro Martins, “que a crítica literária do Rio Grande do Sul elegeu como o melhor e mais sólido romance do autor”, “seu romance mais completo e importante, segundo o consenso da crítica”. A história transcorre na fictícia cidade de São João Batista, onde se situa a Estância Velha, do Coronel Teodoro: “não hay mais pobres, porque os ricos correram com todos que havia por aqui!” (...) O Coronel determina o fim do arrendamento das terras de Janguta (o pai do jovem Ricardo) que vivia na condição de agregado – plantava as terras e pagava o proprietário para ocupar aquele território. (...) Na prática, defrontam-se dois mundos, o mundo das oligarquias rurais, já decadentes, representado pelo Coronel Teodoro, e o mundo de Ricardo, a sua rebeldia, as novas ideias, de modo que é possível afirmar a ruptura com o modelo tradicional do gaúcho que fora fixado pelo romance O Gaúcho, de José de Alencar, e replicado por outros textos de autores gaúchos como O Vaqueano, de Apolinário Porto Alegre e o modelo paradigmático de Contos Gauchescos e das Lendas do Sul de João Simões Lopes Neto.

O Regionalismo heróico do 'gaúcho andarengo a cavalo', que reinava até então, é substituído pelo Localismo crítico da figura do 'gaúcho a pé': sem rumo, marginalizado, já que sem serventia dentro do novo quadro que se apresenta; sem possibilidade de retorno, pois a porteira está fechada; e à procura de outras perspectivas de uma vida autônoma sem servilismo, a esperança de uma estrada nova rumo à urbanização e à profissionalização.
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Sem_Rumo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Porteira_Fechada
https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrada_Nova_(livro)

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