Este livro é uma autobiografia romanceada ou um romance autobiográfico. Benedicto Monteiro narra a sua vida do ponto de vista da prisão e da cassação que ele sofreu em 1964; e da liberdade que ele idealizou durante toda a sua ida. Não é uma narração cronológica, como a maioria das memórias. Também não é memorialista, no sentido da recordação e fixação escrita da sua história. É o tempo subjetivo, o tempo vivencial das personagens, que Bergson designou por durée e Virginia Woolf por time in mind. Este tempo politemporal, diferente mas não dissociado do tempo objetivo e do tempo histórico, é que caracteriza o Transtempo. É também uma sucessão e uma intercalação dos eventos que formam o romance psicológico moderno, desde William James a Freud com sua "corrente de consciência". O Transtempo, como o nome indica, é o passado e o tempo na vivência do presente. E este Transtempo de Benedicto Monteiro é muito mais do que isso, porque é a sua vivência no espaço-tempo de nossa nacionalidade e da nossa regionalidade.
O autor consegue sintetizar num livro de apenas 208 páginas a sua vivência como estudante, operário, advogado, pretor, juiz de direito, promotor, secretário de Estado, procurador geral do Estado, vereador, deputado estadual, federa, constituinte, poeta, escritor e pensador. É a sua vivência no espaço-tempo do Pará, do Brasil e do mundo. Tanto a sua cassação como a sua prisão sofrida em 1964, como a liberdade que sempre idealizou, integram a sua história. A família, as pessoas, as coisas, os cargos são meras referências neste livro de ideias.
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