Transeuropa

Transeuropa Rafael Argullol


Compartilhe


Transeuropa





Embora seja mais conhecido por seus ensaios sobre arte e filosofia, o intelectual espanhol Rafael Argullol também é respeitado mundo afora como romancista. Seus textos ficcionais são um convite à reflexão. É o caso de Transeuropa, romance que leva o leitor a pensar sobre a relação entre memória, identidade e consciência.



Victor, o narrador, é um engenheiro que, embora tenha nascido em Moscou, não se sente russo de forma alguma. Talvez, em parte, por seu país de origem já não existir, a União Soviética. Mas o que pesa mais é o fato de ele ter crescido na Espanha, um lugar completamente diferente. Victor só viaja à Rússia porque o destino quis que ele fosse responsável pela construção de uma ponte sobre o rio Volga. Portanto, é a trabalho que ele retorna ao país, mas será inevitável esbarrar em suas raízes ao longo do percurso.



A viagem de Victor através do Leste da Europa causa-lhe grande estranheza. Criado no Oeste organizado e desenvolvido, ele só enxerga caos e pobreza no outro lado de seu continente. Embora o Muro de Berlim tenha sido destruído, a Europa ainda lhe parecem duas, completamente diferentes, unidas apenas pela ausência de ideologias. As cidades do Leste surgem fantasmagóricas e superpopulosas diante de seus olhos, com mendigos revirando o lixo jogado aos pés de construções majestosas e decadentes. Victor nasceu ali, mas não se identifica com o lugar. Tudo o que ele deseja é voltar o quanto antes a Barcelona.



Para os parentes russos de Victor, ele só existia como uma vaga abstração, um nome escrito em alguma carta antiga de seu pai. Sua recepção, portanto, nada tem de calorosa, é apenas respeitosa. Seus tios e primos não passam de estranhos. O mesmo vale para os colegas de trabalho que o aguardam no escritório da empresa em Moscou, pessoas que ele nunca viu antes e com as quais é obrigado a se socializar.



Toda a narrativa se passa em cenários absolutamente impessoais, como lugares públicos, meios de transporte e escritórios. Mesmo a casa dos parentes de Victor tem a frieza de um hotel. Quando a carência de tudo o que lhe seja familiar atinge o auge, o narrador apela para os serviços de uma prostituta cara. Ao fim de sua jornada, Victor continuará não se sentindo parte da Rússia, mas ele terá uma história vivida no país, que deixará de ser apenas um nome estranho impresso em seus documentos.



Transeuropa, é um jogo entre realidade e ficção, passado e presente, atualidade e recordação. Uma trama bem montada que se propõe a nos fazer refletir sobre a importância de habitar literariamente a Europa, distanciados da retórica econômica e política que a vem envolvendo nos últimos tempos. A narrativa concisa gira em torno de um enigma, para o qual convergem, misteriosamente unidos, uma singular história de amor, uma música redentora, uma trajetória pela civilização européia e o sonho do século XX, com suas imagens de inferno e paraíso.

Edições (1)

ver mais
Transeuropa

Similares


Estatísticas

Desejam1
Trocam2
Avaliações 3.3 / 3
5
ranking 0
0%
4
ranking 33
33%
3
ranking 67
67%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

54%

46%

Nessa Gagliardi
cadastrou em:
07/05/2009 11:11:08

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR