Há autores que podem mudar a realidade. Sarah Kane era um desses autores. O confronto com o implacável criava as suas peças. Sarah Kane tinha de enfrentar o implacável. Só podemos retardar o confronto se estivermos certos de que ele ocorrerá num dado momento. Senão ele se esquivará. Tudo o que Sarah Kane fazia tinha autoridade. Se pensava que o confronto talvez não pudesse ocorrer no nosso teatro — porque está a perder a sua função de compreensão e os seus meios — não podia correr o risco de esperar. Em vez disso, representou-o em outro lugar. Os meios de enfrentar o implacável são a morte, a casa de banho e os atacadores de sapatos. São eles o comentário que ela tinha a fazer sobre a perda de sentido do nosso teatro, das nossas vidas e dos nossos falsos deuses. A sua morte é a primeira do século XXI.
Artes / Drama