Uma pesquisa no Google com as palavras ''Stálin, biografia'' revela a existência de quase 1 milhão de sites (mais de vinte mil em português). Qual o sentido então de escrever e publicar mais uma biografia do famigerado líder soviético? A resposta é simples: além de desencavar memórias e diários inéditos de personagens importantes e de entrevistar os sobreviventes e descendentes dos poderosos da era stalinista, o jornalista e escritor inglês Simon Sebag Montefiore beneficiou-se da recentíssima liberação de cartas, bilhetinhos, anotações nas margens de documentos e livros, minutas de reuniões, agendas e papéis que passavam todos os dias pela escrivaninha de Stálin, em muitos dos quais ele deixava sua marca de aprovação, reprovação ou escárnio. Com isso, pôde revelar a intimidade do poder que até agora permanecia envolta em mistério e mostrar sua face mais humana, embora nem sempre menos brutal.
Montefiore oferece um retrato nuançado de Stálin: leitor compulsivo, apreciador de música e cinema, burocrata minucioso e infatigável, pai rígido, marido desesperado com o suicídio da esposa, político suspeitoso e paranoico, implacável com possíveis inimigos e concorrentes, e líder disposto a sacrificar qualquer coisa - família, amigos, camaradas e milhões de camponeses e soldados - em nome do ideal comunista. E traz para o primeiro plano o que chama de ''magnatas'', os membros do círculo íntimo do poder - Mólotov, Vorochílov, Mikoian, Khrushchov e muitos outros -, que, como uma grande família, participavam de longos jantares e intermináveis bebedeiras, em que decidiam assuntos de Estado e compartilhavam a responsabilidade pelo terror.
Montefiore relata em detalhes os bastidores das grandes decisões políticas e diplomáticas, ao mesmo tempo em que penetra na ''cozinha'' dos poderosos, revelando as preocupações cotidianas com a saúde, as férias, os filhos, ou o disse-me-disse muitas vezes mortal dos corredores do Kremlin. No fim, temos a imagem detalhada e completa da grande máquina montada para implantar o comunismo a ferro e fogo, aquela que, como admitiria Khrushchov mais tarde, deixou todos ''com sangue até os cotovelos''.
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