Sou uma selva de raízes vivas

Sou uma selva de raízes vivas Alfonsina Storni


Compartilhe


Sou uma selva de raízes vivas





A suíço-argentina Alfonsina Storni (1892-1938) – feminista, poeta ao mesmo tempo irônica com o conformismo de homens e mulheres, frontalmente avessa ao patriarcado e celebradora do exercício pleno da sexualidade – já foi lida no Brasil, no início dos anos 1920. O primeiro a comentar os eróticos poemas de seu livro Irremediavelmente (1919) foi Monteiro Lobato, em resenha na Revista do Brasil. De um livro que continha textos que desbancavam machos, como Homenzinho miúdo (“homenzinho miúdo, eu te amei por meia hora, / não me peça mais.”) e outros sombriamente sensuais como “Me atreverei a lhe beijar”, um desconcertado Lobato limitou-se a elogiar sua “estranha eloquência, num luxo de imagens novas e expressões vigorosas”.

Entre os argentinos, o mesmo livro, na revista cultural Nosotros, foi recebido com críticas frontais de Luis María Jordán; segundo ele, Alfonsina é um (sic) poeta que não é: “para ser lido pelas jeunes filles em longos momentos fastidiosos das tardes, mas sim por homens apaixonados e violentos que tenham mordido da vida, alguma vez, com a mesma ânsia com a qual se morde o coração de uma fruta madura”.

Em 1925, nas páginas cariocas de O Jornal, Tristão de Athayde, numa resenha sobre as poetas Gabriela Mistral, Juana de Ibarbourou e Alfonsina Storni, qualifica esta última como a “menos sadia” das três. O argentino Jorge Luis Borges, no mesmo ano, na revista Proa, chegara a falar, de modo depreciativo, numa resenha sobre a poeta Nydia Lamarque, da qual hoje poucos se lembram, que ela manejava bem seu sujeito poético, “sem incorrer nem nas imprecisões nem nas gritarias de comadre que costuma nos oferecer a Storni”. Foi nesse ambiente inóspito que Alfonsina Storni construiu sua carreira, desde 1916, causando pânico nos reacionários, mordazmente ignorando as críticas e celebrando o corpo e a poesia. A despeito de tantas críticas, lançou sete livros de poemas e foi traduzida, em vida, para o francês e o italiano; fez recitais em teatros lotados e em sindicatos de lavadeiras; morreu célebre e reconhecida. Com esta antologia, sua obra retorna ao Brasil, para ser relida, em edição bilíngue, e fazer frente a preconceitos das mais diversas ordens. Que sua selva ecoe em nós.

Wilson Alves-Bezerra

Literatura Estrangeira / Poemas, poesias

Edições (1)

ver mais
Sou uma selva de raízes vivas

Similares


Resenhas para Sou uma selva de raízes vivas (2)

ver mais
Uma mulher foda!
on 27/1/22


Não me considero muito parâmetro porque poesia não é meu forte, muita coisa não compreendi, mas o texto de apoio no final ressignificou completamente a obra pra mim. Tanto sua história quanto seus poemas são intensos demais.... leia mais

Estatísticas

Desejam12
Trocam
Informações não disponíveis
Avaliações 4.0 / 8
5
ranking 25
25%
4
ranking 63
63%
3
ranking 13
13%
2
ranking 0
0%
1
ranking 0
0%

15%

85%

Valtemario
cadastrou em:
14/09/2020 20:18:24
Jenifer
editou em:
14/09/2020 23:05:59

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR