Os quatro estudos reunidos neste pequeno livro podem ser classificados na área da sociologia do conhecimento. Embora os três primeiros sejam trabalhos de divulgação, estão marcados pela mesma preocupação que articula o último: a de valorizar uma das diretrizes mais profícuas do conhecimento sociológico, aquela que mostra o vínculo da prática e do saber no processo histórico.
Entendo que o modo capitalista de produção, na sua acepção clássica, é também modo capitalista de pensar e deste não se separa. É verdade que essa ideia está dispersa nos textos de Marx e que tal conceito não chegou a ser formulado por ele. Surge aqui ainda de forma difusa, mais como premissa destes textos, resultado da minha própria leitura das suas obras sempre ricas e estimulantes. Estou desenvolvendo essa noção em outros trabalhos, para que amadureça devidamente.
O modo capitalista de pensar, enquanto modo de produção de ideias, marca tanto o senso comum quanto o conhecimento científico. Define a produção das diferentes modalidades de ideias necessárias à produção das mercadorias nas condições da exploração capitalista, da coisificação das relações sociais e da desumanização do homem. Não se refere estritamente ao modo como pensa o capitalista, mas ao modo de pensar necessário à reprodução do capitalismo, à reelaboração das suas bases de sustentação ideológicas e sociais. O modo capitalista de pensar também está minado, não obstante, pelas contradições do capitalismo, fato que se reflete nas suas ambiguidades e dilemas. É o que leva para o conhecimento de senso comum e para o conhecimento científico as tensões do capitalismo, expressas nas diferenciações ideológicas e de tendências dentro da mesma formação social.
É o que leva, enfim, o capitalismo para o pensamento de outras classes, como a pequena burguesia, o proletariado, os proprietários de terra. O modo capitalista de pensar é a mediação necessária na produção e reprodução em crise da alienação que subjuga quem não é capitalista, invertendo o sentido do mundo e dando uma direção conservadora e reacionária à ação que deveria construir a sociedade transformada, desvinculando e contrapondo entre si o saber e a prática.
Sociologia