O livro narra em poucas páginas como um cabeleireiro travesti transforma seu estabelecimento no último abrigo de uma série interminável de jovens vítimas de uma peste incurável. O protagonista, que não tem nome, assim como o lugar onde a história acontece, assiste à agonia simultânea de seus hospedes e dos peixes de seus aquários sem ter a menor intenção de curá-los, até chegar a sua própria agonia. “Evidentemente não se trata de nenhuma madre Teresa de Calcutá em versão travesti”, explica Bellatin, “pois ele mesmo zomba daqueles que ajudam os doentes com animo piedoso, como as freiras ou determinadas organizações solidarias. Sua lógica da morte disfarçada de filantropia pode ser muito perversa, mas seus raciocínios são impecáveis: com sua ajuda, os doentes terminais sofrem menos”. No salão transformado em morredouro não são aceitos nem mulheres nem contaminados sem sintomas, e também não entram remédios. Segundo Bellatin, "A presente versão atualizada de Salão de Beleza – realizada mais de vinte anos depois de sua primeira publicação – resulta de um delicado exercício de equilibrista, em que a meta pode ser entendida como escrever novamente para que a escrita original se mantenha intacta. Para mim como criador, a experiência feita sob a atenta vigilância da senhora Guillermina Olmedo y Vera foi similar à de devolver seu esplendor a um antigo jardim. Um trabalho minucioso de desbaste, exaustivo até quase chegar ao invisível, em que a nova leitura consegue que esse jardim adquira um tom verde realmente intenso, um prazer acompanhado do cheiro penetrante da grama recém-cortada.
Romance