Enquanto durarem as bibliotecas no mundo de Língua Portuguesa, as obras de Nelson Traquina estarão presentes nas prateleiras dedicadas ao Jornalismo. (…) No Brasil, os livros de Nelson Traquina tornaram-se alicerces da consolidação cognitiva e institucional da Teoria do Jornalismo (…) Sua coletânea anterior, Jornalismo: questões, teorias e “estórias”, originalmente publicada em Portugal em 1996, já era o livro mais utilizado nos cursos da área no Brasil antes mesmo de sair uma edição brasileira, que seria lançada aqui, pela Editora Insular, em 2016. Decisiva para este sucesso foi o conhecimento do autor sobre a bibliografia internacional da área e sua capacidade de selecionar o que havia de mais relevante nela para embasar a disciplina. A nova coletânea, que agora temos em mãos, mais uma vez atesta este talento para a sistematização do conhecimento relevante. Publicada originalmente em 2014 em Lisboa pela Editora Alêtheia, chega ao Brasil mais uma vez pela Editora Insular. Infelizmente, não teremos nela uma introdução do autor à edição brasileira. Nelson Traquina faleceu em 26 de setembro de 2019 nos Estados Unidos, no mês em que completara 71 anos. A publicação deste livro em nosso país, que era desejada e esperada por ele, também cumpre o papel de homenagem e reconhecimento por sua gigantesca contribuição a nossa área de estudos, no Brasil e em todo o mundo que fala a Língua Portuguesa. (Eduardo Meditsch, na Apresentação)
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Significativamente, este livro foi dedicado pelo seu organizador à nova geração de jornalistas e a uma das muitas vítimas que sacrificou sua vida em nome da luta pela liberdade e pela democracia, Mohamed Bouazizi, cuja imolação pelo fogo, em 2010, foi o rastilho que conduziu à revolta popular na Tunísia e provocou o fim do regime do general presidente Ben Ali, depois de 23 anos no poder. Esse jovem tunisiano, um engenheiro desempregado, foi impedido de vender frutas na rua e sofreu várias humilhações dos policiais e de outras autoridades públicas. Então, em frente à sede da polícia, imolou-se pelo fogo e acabou morrendo no dia 4 de janeiro de 2011. Começava a chamada “Primavera Árabe”.
A publicação tem doze capítulos escritos por acadêmicos de diversas nacionalidades, proporcionando uma leitura fascinante que permite pensar e discutir algumas das “questões críticas” fundamentais para a compreensão da produção e recepção de conteúdos jornalísticos no mundo atual. Inclui análises sobre coberturas jornalísticas de temas globais (como a energia nuclear, a tortura e a AIDS); enquadramentos e representações de determinados grupos sociais (como as mulheres e as crianças de rua); tendências contemporâneas do jornalismo e os respetivos impactos na vida pública e cívica (como o aumento da tabloidização e das notícias “leves”); avaliações sobre narrativas jornalísticas (como o uso crescente de acontecimentos reportados “ao vivo”) e o uso das novas tecnologias na prática profissional; diagnósticos atualizados do que são hoje os principais traços modeladores das culturas jornalísticas globalizadas.
No final desta leitura, jornalistas, estudantes e investigadores na área da Comunicação, para além do público não especializado, mas interessado nos fenômenos gerados pela sociedade da comunicação, sairá mais esclarecido sobre o que é o Jornalismo, para onde vai e qual o papel que todos, cidadãos e jornalistas, desejamos para uma das profissões mais centrais, ainda e apesar de todas as crises, na definição do que são as percepções públicas sobre os acontecimentos e os temas sociais.
Comunicação