Em “Quarteto de cordas para
enforcamento” tocam os instrumentos
putas, padres e pastores, indigentes e
indulgentes, pais, mães e professores,
sombras de todas idades, velhos, viris e
infantes. Para além dos destroços de nossa urbana civilidade, para além de toda escatologia, dos paus e bucetas que
envolvem a alma, a parte pelo todo, o desvario de uma “História do olho”
– por onde já se arriscara Bataille – ,
caminha Gregory Haertel em desafio ao
ato sacro da escritura, imiscuindo-se na
perversão da trama, do tempo, da posição
daquele que narra, daquele que tara,
chafurda no sêmen que escorre pelo ralo e ali, entre água e pentelhos, envolve-se na vida que pulsa potente, tal qual os vermes que pululam na escara, na carne putrefata dos cadáveres que abandonamos
insepultos nas sarjetas da nossa estrada.
Com sua linguagem crua e ousadia
narrativa, “Quarteto de cordas para
enforcamento” provoca e lacera; para
além da moral, devolve-nos uma poesia
capaz de incomodar.
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Viegas Fernandes da Costa
Historiador e Escritor