Somos constantemente assediados pelos produtos da indústria cultural , como filmes, novelas, anúncios publicitários e mesmo histórias em quadrinhos. São obras reproduzidas em série, distribuídas de forma massificada, que povoam nosso cotidiano com uma estética padronizada de imagens e sons estereotipados. Em seu novo livro Quadrinhos & outros bichos, o pesquisador e quadrinhista mineiro Wellington Srbek afirma que nesse “reino de fantasia”, onde a obviedade é a quintessência do consumismo, a platéia, os telespectadores, os leitores são reduzidos a meros consumidores .
Contudo, no seio da Indústria Cultural podemos encontrar certas produções que escapam a essa lógica mercantilista, representadas no cinema de autor , na boa música , n a alta literatura , no quadrinho-arte ou quadrinho autoral . Apesar de serem produtos gerados pela lógica da “reprodutibilidade técnica”, eles comumente nos propõem novos signos e uma estética original, recriam e criticam os modelos culturais, leva-nos a descobrir novos aspectos do mundo, propicia-nos uma experiência única.
Srbek ressalta que, frente ao incessante bombardeio das múltiplas mídias modernas, faz-se indispensável uma reflexão sobre as diversas linguagens e formas de comunicação presentes em nosso cotidiano. Reflexão esta que parta de uma apropriação crítica das informações culturais, que se dirija a elas sem maravilhamentos ou preconceitos. Entre os fenômenos culturais de nosso tempo, certamente os quadrinhos merecem destaque.
Quadrinhos & outros bichos compõe-se de artigos escritos para congressos e eventos acadêmicos produzidos por Srbek no contexto de sua dissertação de Mestrado (Quadrinho-arte: uma leitura da revista Pererê de Ziraldo) e de sua tese de Doutorado (O riso que liberta: uma leitura do quadrinho-arte de Henfil). Obra fartamente ilustrada, contudo as imagens que acompanham os textos não são simples ilustrações dos mesmos, constituindo parte da argumentação.
Como toda a produção acadêmica e artística de Srbek, este livro é uma demonstração de seu continuado interesse pelos quadrinhos. Em suas palavras: uma arte que, apesar de sua atual difusão social, continua desprestigiada e pouco conhecida; e que, apesar disso, continua conquistando artistas e leitores, despertando nossa paixão.
H. Magalhães