Craotchky 10/02/2021Minha coisa favoritaLançada originalmente em 2017, esta grafic novel monstruosa chegou arrebatando diversos prêmio em sua área. A obra foi agraciada com o prêmio Eisner (o Oscar dos quadrinhos) em três categorias, entre outros prêmios de prestígio. Uma justificativa (mas não única) para tanta aceitação, até mesmo da crítica especializada, pode ser o fato de que sua arte é toda produzida com o uso exclusivo de canetas esferográficas (tipo BIC) e hidrocor, circunstância que se destaca quando conhecida.
A linha principal da narrativa acompanhará a protagonista, Karen Reyes, uma menina de 10 anos, que resolve investigar o suposto suicídio de sua vizinha do andar de cima, encontrada morta em condições peculiares. A grafic novel é justamente o diário da menina, ou seja, todo o conteúdo desenhado e escrito tem sua autoria. Os eventos narrados são ambientados em Chicago, no fim da década de 1960. O momento histórico é importante pois se refletirá tanto na arte quanto em trechos em que se abordam aspectos sociais e políticos.
Uma gigantesca pluralidade de elementos afloram durante o decorrer da obra. Dentre os muitos assuntos abordados estão: o contexto social e político do período, obras de arte em exposição, discussões sobre o feminino e a sexualidade, preconceito racial, prostituição (adulta e infantil) e pedofilia, os horrores do nazismo... Além de, é claro, muitas referências às histórias de terror que a protagonista adora. Na grande maioria das vezes essa mistura fica muito bem colocada no enredo, tornando a obra muito rica ao tratar dessa multiplicidade de tópicos.
A arte é simplesmente espantosa, fantástica, fabulosa, incrível, monstruosa! Possui uma riqueza de detalhes impressionante. Além disso, por vezes há uma miscelânea de combinações de cores mescladas, resultando em um efeito belíssimo. (Neste ponto preciso salientar que sou um leitor de pouquíssimas leituras de quadrinhos, portanto quase que não tenho referências para estabelecer grandes comparações.)
A história pessoal da autora também chama bastante a atenção. Em 2001, muito antes de sequer sonhar em produzir esta obra, Emil Ferris contraiu a Febre do Nilo Ocidental, após ser picada por um mosquito. A doença paralisou a parte inferior do seu corpo e também sua mão direita. Com isso, durante o processo de recuperação, ela teve que desenvolver a capacidade de desenhar com sua mão esquerda a fim de fazer sua grafic novel. Conseguiu.
Como ponto negativo penso que quando o foco sai da linha condutora da narrativa, isto é, a investigação, aparecem momentos aparentemente fortuitos. Porém essa aparente ausência de nexo talvez se explique quando lembramos que a narradora é uma menina de 10 anos. Ademais, a ordem de leitura dos blocos de texto em algumas páginas pode ser confusa pela mesma razão. No meu modo de ver o final deixou a desejar pois a solução do mistério, isto é, a linha narrativa principal, tem um desfecho nebuloso, que mais produz dúvida do que respostas. Como há uma continuação, existe um fator atenuante.
Enfim, já me alonguei demais. Mas acredite, deixei muita coisa de fora desse texto. Em outras palavras: Minha coisa favorita é monstro entrega muito mais do que pude mencionar por aqui.
ALGUMAS CURIOSIDADES
📌 Minha coisa favorita é monstro é a grafic novel de estreia da autora.
📌 Foram utilizadas cerca de 20 mil canetas esferográficas ou hidrocor na confecção do quadrinho.
📌 A HQ foi recusada por quase 50 editoras antes de ser aceita.
📌 O trabalho se prolongou por cinco anos, período no qual Emil se empenhou 12 horas por dia.
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p.s. Esta resenha é dedicada a Nathália Vitório que teve participação direta e fundamental nessa minha leitura. Nath, nesse momento minha coisa favorita é você.