Adriano 30/12/2022
Logo nas primeiras páginas de "Minha coisa favorita é monstro" já é possível perceber que estamos diante de uma obra diferente de tudo que foi feito até então. O que é feito aqui eleva essa mídia à um novo patamar, e não é à toa, portanto, que muitos consideram esse quadrinho um clássico desde o momento de seu lançamento, em 2017.
Ao adentrarmos essas páginas, conhecemos a protagonista Karen, uma garota mestiça, e que se vê como um monstro (um tema que a atrai muito). Vivendo em Chicago, Karen vive o agitado momento social e político de 1968, com a guerra do Vietnã em curso, e os efeitos na sociedade após os assassinato de John Kennedy (anos antes), e de Martin Luther King (nesse mesmo ano). Em meio à todo esse rebuliço, a "menina lobismoça" vê outro assassinato marcar sua vida, dessa vez de uma vizinha, em seu prédio. E assim, ela resolve investigar por conta própria essa morte. Temos o livro estruturado então como os cadernos de Karen, com uma arte absurdamente linda feita com caneta esferográfica, em folhas com pauta, onde a menina relata sua vida, e sua investigação.
Tudo o que envolve a criação dessa obra, é tão surpreendente quanto o próprio conteúdo presente em suas páginas. Escrito e desenhado por Emil Ferris, "Minha coisa favorita é monstro" surpreendentemente é seu livro de estreia, escrito após a então escultora perder os movimentos de parte do corpo e de suas mãos. Desenhar passa então a ser praticamente uma reabilitação, e nasce daí a obra prima alvo dessa resenha. Após finalizar o quadrinho, a autora recebeu dezenas de negativas por parte de editoras, até receber um "sim" da Fantagraphics, e ainda viu a primeira tiragem da obra ficar retida no Canal do Panamá. Toda essa difícil trajetória valeu a pena, já que após o lançamento o quadrinho recebeu diversos prêmios, entre eles o Eisner e o Fauve D'or de Angoulême.
Não só a autora merece elogios por sua obra. A tradução de Érico Assis também merece destaque, bem como a diagramação e letreiramento feitas por Américo Freiria e Jéssica Freiria. Uma vez que o letreiramento está constantemente integrado à arte de Emil Ferris, só consigo imaginar o quão árduo deve ter sido esse processo de adaptação.