Paulo 14/08/2020
“Entendi o motivo das pessoas fazerem pedidos às estrelas cadentes. É porque em momentos como este, em noites como esta, acabamos olhando pro céu.”
Uma vez que a história de Hachi já foi mais ou menos resolvida no volume anterior, o Volume 4 de Planetes tem um pouco de cara de filler (mas isso não é um defeito!). Ou então cara de volta às origens, uma vez que essa maneira de andar com a narrativa lembra muito a pegada do primeiro volume. Dentre os 10 capítulos que compõem essa edição, somos apresentados ao divertidíssimo Barão, um lixeiro espacial que acredita que vem de outro planeta, e descobrimos que até mesmo o obstinado Locksmith tem um pouco de coração. Mas a maior parte da edição se concentra em um mini-arco protagonizado por Fee que, diante da iminência de uma guerra espacial, e tendo que lidar com a rebeldia do filho, começa a repensar sua postura diante das injustiças à sua frente enquanto relembra o passado com seu tio.
Uma vez que Makoto Yukimura encerrara mais ou menos a história de Hachi, e a mensagem que queria passar sobre a importância do amor já tinha sido dada, o mangaká aproveita a edição final para orbitar outro tema poderoso: a indiferença dos adultos diante das injustiças à nossa frente. Yukimura nos faz questionar se tornar-se adulto é ter que engolir diariamente insatisfações para conseguir conviver com outras pessoas. Em que momento perdemos aquela vontade de lutar contra o que não faz sentido? Apenas crianças ficam revoltadas com uma briga que não se pode ganhar? E tudo isso nos é apresentado através de uma iminente guerra espacial como pano de fundo, como forma de nos fazer pensar também sobre a militarização do espaço.
Mas nem por isso o mangaká deixa de retomar a força motriz de sua narrativa: o amor. Aproveitando-se dos capítulos a mais desta edição, Yukira usa de Locksmith e do discurso final de Hachi ao finalmente pousar em Jupiter para complementar a mensagem que vem tentando nos passar desde o primeiro capítulo da obra.
Enfim, Planetes é uma excelente obra de ficção científica, que começa de um jeito simples, mas muito gostoso de ler, fazendo críticas severas aos tempos atuais e à questão do lixo espacial, para depois caminhar para uma obra mais melancólica e profunda, que vai se aprofundar na temática da solidão, do sentimento de se almejar muito algo e quando se tem nas mãos não saber o que fazer ou como lidar, e da importância do amor para as relações humanas. E, para, além disso, Yukimura aproveita para abordar ainda uma série de outras questões importantes, como a Sindrome de Kessler, grupos terroristas, militarização do espaço, questões sociais, etc. Os personagens são carismáticos, divertidos e muito engraçados, dando a leveza necessária aos temas pra lá de melancólicos. Quanto ao trabalho artístico, é um primor a parte. Você até esquece que está lendo um mangá. Obra imprescindível pra quem gosta de uma boa ficção científica e já sonhou em um dia explorar os confins do universo como astronauta.