Fabrício Franco 16/09/2023
Sobre a beleza no tempo das redes sociais
Liv Strömquist é uma das principais novelistas gráficas da Suécia. Suas obras, que sempre combinam filosofia, história, arte, sociologia e cultura moderna, abordam múltiplos tópicos, sob vários ângulos, de uma forma divertida e instigante.
Na Sala dos Espelhos faz exatamente isso: usando exemplos históricos e literários, bem como influenciadoras das mídias sociais, a autora explora a origem do foco na beleza feminina (uma dica nada surpreendente: tem algo a ver com as mulheres como mercadorias) e como isso se relaciona com as mulheres como sujeitos e objetos na sociedade moderna. Mostra quão ridiculamente elas se comportam na busca pela beleza, quer estejam tentando ganhá-la ou mantê-la.
Enquanto algumas se exercitam religiosamente, se submetem a cirurgias plásticas, não se expõem ao sol, não deixam ninguém olhar para elas depois de certa idade, tentam copiar-se como obras de arte ou competem com as outras para ver quem tem a cintura mais fina, parecem esquecer que a vida é muito mais do que aparência. A beleza, aponta Strömquist, é especial, em parte, porque é transitória; tentar segurá-la não apenas desperdiça tempo e energia, mas também anula seu real significado.
Ao lermos, somos forçados a olhar através do espelho que a autora nos mostra e nos confronta, ajudando-nos a ver que estamos perdendo a verdadeira beleza da vida. Um livro bem documentado, onde o estilo de desenho inimitável da autora e as teorias de Susan Sontag ou Eva Illouz vêm junto para desvendar o cânone que nos escraviza e para encontrar algo real entre tantos filtros.