Mr.Sandman 02/07/2023
Máscaras e Tentáculos no Ultramundo
Menino-Larva é uma jornada surrealista, introspectiva e alegórica, que fala sobre os refúgios mentais da imaginação em virtude do sofrimento existencial cotidiano. É uma obra de sutilezas gritantes, já que possui um mundo rico, construído com uma semiótica belíssima e muito criativa. Pedro Mancini desenha seu mundo real com uma estranheza sombria e marca seu ultramundo com uma mágica ambígua.
É uma leitura muito rápida e que entrega bem sua mensagem, por mais que talvez nem tudo seja tão claro assim. A mensagem em grande parte, no meu entendimento, está ligada a como mantemos nossas aparências. O mundo, desde sempre (e hoje talvez mais do que nunca) é forjado em termos das aparências que as coisas tem. O mundo que vai além dessas aparências, é de cada um, e é nele que mora toda a nossa individualidade e toda a nossa subjetividade. O ultramundo do avô de Victor é uma extrapolação pulsante da solidão e do esquecimento. Seu mundo surrealista é um grito interno dos seus medos e uma tentativa de sobrepujar seu sofrimento com um aquário de seres únicos e além-humanos. Victor não é tão diferente. Sua máscara esconde a Larva do desespero existencial. Ele é um menino que vive muito no desequilíbrio de sua mente, no bombardeio da sua imaginação que é, muitas vezes, opressora, tanto quanto o mundo, mas sempre em referência a esse mesmo mundo. Os mundos dos Victors e de seus egos se colidem e se não fosse a máscara, a "Vida venceria" e seu sofrimento despencaria na materialidade do mundo. Mas Victor muda ao entrar na odisseia do ultramundo de seu avô. Ele encontra ali um ponto em comum...alguém parecido com ele. Alguém de sua ancestralidade. É nesse entendimento mútuo, nessa jornada empática, que Victor se desgarra de sua máscara e se torna um herói. O herói que irá libertar seu avô da solidão.
Menino-Larva me surpreendeu bastante. Eu me sinto uma pessoa extremamente conectada com meu interior, mas sempre e ainda, de forma meio caótica e disforme. Minha imaginação tanto me salva quanto me sobrepuja. Esse jogo é doloroso, mas dói sempre em referência ao que meu mundo real tem a oferecer. E a troca com pessoas genuínas que não tem medo de entrar no meu mundo é oq faz dessa imaginação e desses refúgios mentais, lugares mais toleráveis. Me identifiquei com essa obra nesse sentido e ler de uma vez só tornou tudo ainda mais significativo. Estou num momento de mudanças e tudo parece muito assustador...mas no meu ultramundo, já consigo ver as águas vivas voando em meios aos peixes desse aquário que é só meu...