"Poeira: demônios e maldições", de Nelson de Oliveira, é situado em um tempo futuro, numa cidade não nomeada. A princípio, trata-se de um romance a respeito de um mundo onde a publicação de livros foi estritamente proibida. Aos poucos, contudo, novas obras começam a surgir, misteriosamente, na biblioteca chefiada pelo temido Frederico e depois em todo o planeta.
Se de um lado há o enigma dos livros clandestinos, cada vez mais numerosos, de outro pessoas desaparecem, como Estela, mulher de Frederico; Renata, sua filha; Pedro Penna, um tipo de investigador, e até mesmo Frederico, o bibliotecário-chefe que, depois dos livros, é o personagem mais presente nesta narrativa.
A partir do seu sequestro, o leitor é transportado para o mundo calorento e subterrâneo dos demônios fazedores de livros, pequenas e estranhas criaturas que têm a função de raptar humanos e usá-los como trabalhadores numa imensa gráfica localizada no centro da Terra. O absurdo vai ganhando então mais espaço e revela a surpreendente habilidade criativa deste, que estabelece diálogos com manifestações já tradicionais da literatura, como o realismo fantástico e a ficção científica, mas transformando-as com muita originalidade.
Por meio de um humor ácido e com paisagens que lembram filmes de ficção científica ("Metrópolis", de Fritz Lang, ou "Blade Runner", de Ridley Scott), "Poeira: demônios e maldições" consagra Nelson de Oliveira como um dos melhores e mais sofisticados prosadores da literatura brasileira contemporânea.