Organizado pela ABIPSI (Articulação Brasileira dos Indígenas Psicólogos(as) este livro é composto por inúmeros artigos escritos por Psicólogos(as) Indígenas, com o intuito de descolonizar a Psicologia e aproximá-la dos saberes tradicionais em territórios indígenas, por uma Psicologia Indígena, descolonizada, ancestral, que abarque a pluralidade de formas de existir, com subjetividades plurais, num exercício e prática de uma Psicologia mais latino-americana e menos eurocêntrica.
Há séculos a ciência estrutura-se sob a égide metodológica de transformar o que é vivo em objeto, a psicologia, em muitos casos, não ficou fora desta normativa. Mas esse tempo acabou! Não há mais espaço para a Razão Indolente, ausente de uma crítica a si mesma e que, guiada por um empirismo míope, não consegue produzir respostas eficientes para a diversidade do mundo e os fenômenos que o constituem. A ciência colonizadora, que embranquece e formata o que é pulsante dentro de suas linhas previamente esquadrinhadas, caiu por terra. Neste contexto, uma psicologia que compreende os processos de subjetivação exclusivamente a partir de modelos preestabelecidos triangularmente fechados em si mesmos, universais e eurocentralizados também se mostra insuficiente. É necessária a autoanálise de que, ela mesmo – a psicologia, guiada por esses moldes, foi e é utilizada, historicamente enquanto ferramenta para produção de múltiplas invisibilidades, silenciamentos e violências contra a diversidade constitutiva da subjetividade humana. Contra isto é necessário trazer mais cores, mais rostos, mais vozes para dentro da psicologia. É justamente a esta rotação paradigmática que se propõe a Articulação Brasileira dos(as) Indígenas Psicólogos(as) – ABIPSI, promovendo uma psicologia pintada de jenipapo e urucum. Neste caso, descolonizar a psicologia significa encharcá-la de interculturalidade multiétnica, dotá-la de tamanha diversidade a ponto de que qualquer compreensão sobre subjetividade possa ser construída a partir de referenciais próprios de cada pessoa, coletivo, território ou povo. Significa alargar a compressão do ser humano a cosmologias secularmente colocadas à margem na construção dos saberes. Neste livro o leitor e a leitora encontrarão casos, relatos, vivências, cartografias que comprovam estes preceitos. Ednaldo Rodrigues, Itaynara Tuxá, Miriam Tembé, Ezequiel Tikuna, Vanessa Terena, Nita Tuxá, Iterniza Macuxi, Dayane Almeida e Edinaldo Xukuru, nos brindam com trajetórias de resistências apoiadas em ancestralidades, culturais e territórios que reclamam pela visibilidade de suas identidades individuais e coletivas, que exigem o respeito ao direto de Serem e Existirem à sua maneira, que advogam por uma psicologia integral. Uma psicologia com cor, com rosto, com identidade, uma psicologia plural, viva e coletiva, que luta, resiste e transcende, uma psicologia de jenipapo e urucum.
Saudações Interculturais!
(Por: Luiz Felipe B. Lacerda)
Psicologia