Paulo e Virgínia

Paulo e Virgínia Joel Rufino dos Santos


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Paulo e Virgínia


O literário e o esotérico no Brasil atual




Ficção e realidade se confundem e se entrelaçam em Paulo e Virgínia, novo livro de Joel Rufino dos Santos. A trajetória amorosa e trágica do casal, um professor de literatura e uma psicóloga, é tecida como pano de fundo para uma crítica ao ensino de literatura nas Faculdades de Letras e para uma análise explicativa à maré esotérica, principalmente literária, representada pela obra de Paulo Coelho.

O autor toma posse da vida de seus amigos, mortos num acidente de trânsito nas primeiras horas do dia 1º de janeiro de 1997, ao receber de um bombeiro que participara do socorro às vítimas dois livros "com discretas manchas de sangue": As conseqüências da modernidade, de Anthony Giddens, e O alquimista, de Paulo Coelho. A partir desses emblemas, transforma o caso Paulo e Virgínia em objeto de estudo acadêmico, através de pesquisa interpretativa, permitindo que Paulo fale explicitamente aquilo que não dissera. Mas ao conduzir a narrativa tem em mente um adágio romano: "Nunca deixe que a verdade interfira numa boa história".

Com o subtítulo O literário e o esotérico no Brasil atual, o livro de Joel Rufino dos Santos dá voz às críticas e propostas de mudança formuladas por Paulo Sarmento Guerra, doutor em Letras pela Universidade de Lumière, de Lyon, para acabar com o "baixo estruturalismo dos departamentos de letras". Segundo Paulo, o ensino universitário deveria ser uma fonte de produção de conhecimento através da legítima troca de saber entre os professores, que lamentavelmente renunciaram à condição de intelectuais, e alunos, desde sempre castrados da hostilidade, da agressividade e do desejo. Sua idéia básica consistia em organizar um curso espontâneo de literatura brasileira, deixando que os alunos escolhessem o que estudar, pois a liberdade, na sua concepção, significava pensamento próprio. Mas a ambição maior era formar leitores críticos, pois, a exemplo de Kafka, entendia que "ler é fazer perguntas".

Pela pena de Joel Rufino, o paraibano de Catolé do Rocha, "uma boa fonte de consciência, uma vida que não sabe enganar", aprofunda-se no esoterismo. Busca assim entender o "gosto estragado" dos alunos e, principalmente, da mulher, a paulistana Virgínia Mattos Guerra, pelos escritos de Paulo Coelho. Mas no fundo, sua meta era compreender a bela mulher amada de olhos verdes, "sempre agitada mas constante", psicóloga tout court pela Universidade Lionesa, que vivera à época do desbunde dos anos 60 numa comunidade hippie.

Neste sentido, o personagem estabelece relações entre ocultismo, esoterismo, modernidade, contracultura e chega às engrenagens que movimentam a literatura de massa, cuja base institucional são as editoras, livrarias e meios de comunicação. Também constrói um curioso paralelo entre anjos e mouses, que presentificam um mundo invisível de onde foram banidos, preventivamente, a contradição, o dissabor, a morte.

Paulo e Virgínia, de Joel Rufino, está calcado no romance trágico de igual nome de Bernardin Saint-Pierre (1737/1814), uma elegia satírica contra a deturpação dos instintos puros pela civilização. E ontem como hoje, um homem apaixonado procura entender a mulher amada que se deixou levar pelas circunstâncias do mundo atual, incapaz de responder as dúvidas existenciais e que se agarra à religiosidade sem fronteiras dos esotéricos.

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Larissa
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11/04/2010 16:36:27