Neste romance, um pintor frustrado, amargurado e excêntrico mantém ao seu redor uma reduzida plateia de seres mudos, submissos e escondidos na sombra. Inês, velha senhora suave, sensível, sempre de olhos e coração abertos para as pequenas belezas da natureza, mas irremediavelmente só. Raimundo, sombra de homem confinado a uma cadeira, desesperançado e triste, em companhia de suas reminiscências. Rufino, anão de meia-idade, dolorosamente consciente de suas limitações, à procura da beleza e da juventude em outros corpos. A entrade de Zaida e Daniel, com sua alegria e juventude, neste universo de seres semimortos, representa uma possibilidade de vida que rompe a ordem estabelecida. Uma história que se movimenta em mistério e que, por sua força metafória e densidade lírica, nos aproxima dos clássicos do gênero, das narrativas curtas de um Poe ou de um Hemingway, cujo nível simbólico é insondável e permanente. Nas palavras do autor, os personagens de Partilha de Sombra "são criaturas isoladas, quase sem diálogo, preparando-se para morrer. Apesar disso, iluminados de uma secreta energia, que é memória e apego às mínimas coisas e aos grandes mistérios. E tudo acontece num momento de tão completa pobreza que qualquer coisa é uma entrada no paraíso". Narrador envolvente e criador de personagens inesquecíveis, Walmir Ayala, em Partilha de Sombra, nos faz retomar às fontes clássicas, o que lhe garante o lugar que hoje ocupa entre os melhores escritores da literatura brasileira moderna.
Literatura Brasileira / Romance