“Caro leitor, cara leitora, se você quer conhecer O capital, de Karl Marx, leia O capital. Dito isso, vocês devem estar se perguntando: por que raios esse sujeito escreveu uma “orelha” para um livro sobre aquela obra? Respondo: porque esse livro é um sensacional convite à leitura da obra de Marx. Uma janela aberta para a multiplicidade, a pluralidade e a profundidade das leituras possíveis (e atenta para a crítica das que não deveriam ser possíveis, mas estão por aí) de O capital.
Escrita por professora(e)s que, já há décadas discutem sobre Marx e seu livro mais importante, esta obra resgata mais de um século e meio de debates sobre O capital, mas vai além e acrescenta algumas contribuições relevantes e originais a esse longo debate. Assim, tanto o leitor ou a leitora que quer iniciar agora o estudo sistemático da obra de Marx, quanto o especialista acadêmico, mais experiente nesta leitura, tirarão grande proveito deste livro.
Aqui não faltarão interpretações instigantes sobre a teoria do valor, entendida como “em última instância, uma teoria sobre o capitalismo“. Uma teoria construída a partir de leis de tendência e determinações reconstituídas por Marx em diferentes níveis de abstração e elucidada através de categorias dela em dissociáveis, como as de fetichismo e exploração. Categorias estas sujeitas também a longas polêmicas sobre seu sentido próprio e peso relativo na obra de Marx. Como a própria categoria capital, e sua gênese, outro objeto de debates antigos e novos, que não faltou a esta discussão.
Da mesma forma, não falta a categoria luta de classes, presente tanto para discutir temas quentes no debate contemporâneo — como o da destruição ambiental —, Reafirmando-se a premissa revolucionária da crítica e da orientação política marxiana, quanto para nos lembrar que se a revolução é o objetivo, mesmo a luta mais imediata “do trabalho em negar O capital“ possui potencial transformador, pois “criar vínculos não alienados entre os trabalhadores no próprio movimento contra O capital“.
Se o método de Marx, que atravessa O capital, é pautado em uma crítica ontológica — que “sempre se direciona para a realidade, para o ser“ e, portanto, “a realidade é o critério da crítica“ —, essa crítica possui um sentido de classe, como o próprio Marx anuncia na segunda edição do Livro I (1873): “na medida em que tal crítica representa uma classe específica, ela só pode representar a classe cuja missão histórica é o revolucionamento do modo de produção capitalista e a abolição final das classes: o proletariado.” Ou, como ele retrucaria em uma entrevista poucos anos depois, quando perguntado se o objetivo final do socialismo seria a instalação do poder operário: “é a emancipação dos trabalhadores”!
Sem nunca perder de vista o papel da “crítica das armas”, O capital foi o ponto máximo da forma como Marx, representando tal projeto coletivo, empunhou a “arma da crítica”. Aceitemos o potente convite feito por esse livro, voltando à Marx, antes, durante e depois de sua leitura.”
Marcelo Badaró Mattos (UFF/NIEP-Marx)
Economia, Finanças / Política