tatiana nascimento é uma das poetas de minha predileção na literatura brasileira contemporânea. Por quê? Porque seus poemas cartografam, cartograçam universos de sentidos das palavras em desdobramentos, extensões e sonoridades pouco experimentadas. Indo além da performance vocalizada, a palavra de tatiana nascimento performa escrita, grafadada em qualquer suporte, em signos e (des)combinações ritmadas. Aliás, existem poemas de sua lavra que desconfio serem impossíveis de musicar, posto que já nasceram música.
Os versos de tatiana nascimento têm poesia, não são linhas encadeadas que se fingem poema ("lágrimas trans / bordavam / su piel"). Poeta de sofisticação milimétrica, tatiana é capaz de reescrever o mesmo poema por 85 vezes e ainda se lembrar de cada mudança operada na busca dos efeitos e sentidos abrigados pela palavra. Encontramos na poesia de tatiana um modo exemplar de desconstruir a palavra em morfemas e de reencantá-los pelos sons da ironia (mesmo que ela não se ache irônica), da crítica ácida à colonialidade. Eu sorrio admirada e orgulhosa diante dos usos e abusos de tanta tecnologia ancestral de produção de infinitos ("gente in transe / é ≠ de / instrasigente / aperta-mente / é ≠ de / Orí(ente)"). Sugiro leituras e releituras e compassadas da poesia de tatiana nascimento, na cadência das danças de Nanã, Obaluê, Oxalufã; afinal, "pra que ganhar em time que tá se mexendo?".
Cidinha da Silva
Literatura Brasileira / Poemas, poesias