De uma forma magnífica, o Dr. Protasio Langer inicia o seu estudo sobre os guarani-missioneiros e o colonialismo luso no Brasil meridional, resgatando o cerne da questão a partir da premissa: "A conjunção de mundos radicalmente distintos quanto à organização das esferas social, econômica, política e religiosa é a chave interpretativa do fator histórico que deve nortear os estudos das relações entre europeus e povos autóctones das Américas".
Nesse sentido, evidencia o seu objetivo na constante busca sobre o entendimento, e a profunda compreensão nas transformações da identidade étnica dos guaranis, àqueles que foram evangelizados pelos jesuítas ao longo dos séculos XVII—XVIII e depois foram inseridos no projeto do governo português, através do Diretório Pombalino, no período de 1768-1780.
Poucos são os estudos relevantes, na historiografia sul-rio-grandense, que discutem de forma séria, reflexiva, crítica e que nos apresentam conclusões plausíveis sobre o problema do processo civilizatório dos povos indígenas no Rio Grande do Sul – principalmente no período colonial. Com certeza, podemos inserir as análises e conclusões expostas aqui, pelo Dr. Protasio Langer, nesse grupo seleto, que nos aponta direções corretas sobre a relação do povo guarani com as frentes colonialistas ibéricas e seu destino, nas mais diferentes inter-faces dos projetos civilizatórios. Nelas descobrimos o que sempre esteve encoberto e que poucos tiveram coragem de abordar: as faces da identidade étnica guarani, que Langer revisa de forma metódica, numa linguagem historiográfica atual, um velho e conhecido problema nosso, assumir ou não a aculturação de parcialidades do povo guarani, que foi seduzido pela fala do jesuíta missionário no século XVII.
O Diretório Pombalino se expressou no Rio Grande de São Pedro colonial através da Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos, atual e promissora cidade de Gravataí. Ali ocorreu a primeira e inédita experiência de aldeamento indígena em terras do governo português, no sul do Brasil. Entretanto, o mais interessante é o nexo que Langer estabelece entre as duas frentes de colonização ibéricas na região do Rio da Prata, apresentando o guarani como o elo de ligação entre elas.
Dessa forma, a Martins Livreiro – Editor convida a todos para lerem, ao sabor das análises da presente obra, este fato tão importante e significativo à compreensão do passado colonial sul-rio-grandense, tão presente em nossa memória, identidade e cultura, que creio ainda nos incomoda e instiga: o que nossos antepassados fizeram com os nossos índios?