Olhos azuis, cabelos pretos, romance de 1986 de Marguerite Duras, se desenrola em um quarto de hotel em um balneário francês, onde ao fundo é possível avistar o mar e escutar o barulho de pessoas desconhecidas em busca de sexo. Um jovem estrangeiro de olhos azuis enigmáticos e cabelos pretos passa pelo saguão do hotel e se mistura na multidão.
Dentro do cômodo, há dois protagonistas que se conectam por um desejo peculiar e sem esperanças. O que os une é a falta do rapaz estrangeiro, que consome seus pensamentos. O Homem e a Mulher: personagens formais, belos, nus e iluminados pela luz noturna que penetra a janela do quarto. Ela, uma escritora do interior; ele, um jovem homossexual.
Jogados lado a lado na cama, em uma imobilidade que impede que se consuma qualquer relação, eles conversam e lamentam a ausência do estrangeiro, que desconhece suas existências e exerce um fascínio desmesurado sobre eles.
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A puta da costa normanda é um pequeno texto biográfico de Marguerite Duras, escrito concomitantemente a Olhos azuis, cabelos pretos. A escritora está em um hotel em Trouville, de frente para o mar, e escreve as páginas de seu romance na companhia de seu amante Yann Andréa, 38 anos mais jovem que ela e homossexual. Este último tem a tarefa de digitar o texto em uma máquina de escrever.
A relação dos dois é conturbada. Ouvimos gritos. Yann critica sua amante por seu desejo de escrever, sua misantropia, sua vontade inabalável que não deixa espaço para mais nada. Ele a culpa pela falta de sociabilidade, pela falta de vontade de sair, de aproveitar a vida. Ele está vivendo a “realidade”, em Trouville, entre o Casino e o grande hotel. Ela está em um mundo virtual e imaginário. Ao contrário de Olhos azuis… este manuscrito é secreto, não dado a Yann para sua digitação. Segundo Duras, quando o livro terminar, não há mais razão para que ele exista como objeto pessoal, podendo ser publicado para testemunhar o que aconteceu durante o tempo de escrita de seu romance.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance