O vestido de laise

O vestido de laise Thiago Sogayar Bechara


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O vestido de laise


contos e prosas poéticas




Thiago Sogayar Bechara parece ter plena consciência dos efeitos das imagens construídas pois, tanto em sua poesia quanto em suas peças teatrais e contos, é perceptível a intenção artesanal comum a todo indivíduo que pensa seu próprio tecer, tanto que consegue transportar poesia para as biografias que se dedicou a escrever transformando os biografados em personagens de suas próprias vidas. A delicadeza e a dedicação com que encara suas empreitas artísticas e jornalísticas fazem dele, como diria Pound, uma das antenas da raça nesse início de século XXI. Daí que o custo da catarse diante dos contos de Thiago S. Bechara é o silêncio. É o estado de imersão que iniciamos dentro de nós mesmos quando nos deparamos com a ideia de que compartilhamos das mesmas angústias e naturezas dos muitos que habitam seus textos.

Do prefácio.

“O vestido de laise: contos e prosas poéticas”, de Thiago Sogayar Bechara. (Editora Patuá, 2016).
Dia 10/12, sábado, das 18h às 23h.
Bar e Livraria Patuscada (Rua Luís Murat, 40, Vila Madalena, São Paulo).


Composto por 26 contos e prosas poéticas, e uma novela, “O vestido de laise” (Editora Patuá, 2016) é o nono livro de Thiago Sogayar Bechara (www.thiagobechara.com.br), e primeiro no gênero de histórias curtas e vem coroar os 15 anos de carreira editorial do poeta, biógrafo e dramaturgo nascido na capital paulista. Marcado por estéticas inconfundíveis – e tão distintas entre si - como as de Clarice Lispector e Fernando Pessoa, o resultado poético dos contos apresentados neste livro revelam painéis psicológicos de indivíduos atormentados pela aguda consciência que os tira de uma zona de angústia sombria para uma iluminação não menos aflitiva, porém mais lúcida e, portanto, hábil na busca de uma compreensão da vida. Isto não quer dizer, contudo, que as elaborações ficcionais das humanidades retratadas aqui tenham a esperança de alcançar alguma compreensão efetiva sobre o sentido de existirem (ainda mais na condição em que existem). Antes o contrário. Buscam em roda, como os ciclos tediosos de Tchékhov, num absurdo realista (ou realismo absurdo), como as peças de Ionesco.
Porém, dar essas ou outras referências autorais não é suficiente para revelar por inteiro o universo afetivo e quase idílico que esses retratos de pouca ação exterior - mas com grandiosos movimentos internos - apresenta ao leitor. Em sua etimologia, a palavra “drama” relaciona-se com a ideia de ação. Pois as personagens de “O vestido de laise”, estejam elas ou não envolvidas num enredo propriamente, vivem indiscutivelmente dramas mais ou menos profundos, mas todos eles vividos em sua plena intensidade. Mesmo quando imersos em profunda beleza – ou por isso mesmo. Ou obrigando -se a proteger-se do mundo buscando a beleza na tragédia que acomete a cada indivíduo, pobre ou rico, na sua igualdade quando veem-se de idêntico modo sujeitos à fatalidade e a ausência de liberdade de escolha para uma vida que acaba não sendo totalmente delas. E que termina do mesmo modo para todos, em seu momento crucial de desfecho rumo ao esquecimento.
Vestidos de cenas cotidianas, os personagens que bailam por estas páginas são como cada um de nós. Frágeis e fortes. Lúcidos e cegos. Sãos e loucos. Têm nas descobertas dos seus avessos, os lados certos da vida. O avesso de um vestido, o avesso de um céu precipitado ao chão, o avesso de uma grade enferrujada, o crime como remissão, a morte como renascimento, a dor como alegria e as vísceras como a única possibilidade de mostrar o exterior de que somos revestidos. O avesso do sexo, o terror que há na paz, a secura da chuva, a liberdade que há numa cela de penitenciária e a umidade de um deserto. São alguns dos pequenos símbolos que colorem a penumbra destes fados literários. Um livro costurado em seu paradoxo. Vidas que só são bem cerzidas quando descosidas. Almas atadas às suas sombras e iluminadas pela percepção do contraste como gérmen do novo. O vestido de laise enfim sai de seu ateliê paupérrimo para rodar num salão ornado sabe-se lá por quais imaginações. Trata-se de um livro em aberto. Um livro em co-autoria com cada um dos leitores que se deixarem levar pela turbulência contundente e ao mesmo tempo serena de suas ondas. Ondas de rio e mar. Um livro para ser mais sentido e absorvido pela pele, via sonoridade de seus longos silêncios, do que propriamente entendido.

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Thiago
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03/02/2019 16:52:11

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