A desesperada tentativa de Pedro Câncio para segurar no espaço um tempo “rasgado em franjas”, de algo que foi sólido e se desfaz, já estava presente em seu livro de estreia, Correntezas. Para Jorge Luiz Borges, a literatura gaúcha não nasceu do gaúcho, mas sobre o gaúcho, impotente em sua baixa cultura para se expressar de forma perene e persistente. Temos na literatura de Pedro Câncio o mesmo sentimento, no encanto da poesia na pobreza, rica em emoções e habilidades, e na busca em resgatar do massacrante rolo compressor do “progresso” o sentido ético cultivado pelas pessoas simples de sua infância. O professor de literatura conserva o dom de revelar a terra e a natureza com muita propriedade, transportando seus leitores para lugares e situações impossíveis de viver no presente senão em seus livros. Do esforço de sua mente, o documentário da imaginação aproxima a realidade pela ficção.