Ô de dentro! é um desses livros indispensáveis, que já nasce com um vigor próprio. Aqui, personagens próximos, conhecidos, que compõem um mosaico translúcido de uma realidade muitas vezes ignorada sem muita solenidade. Aqui, a linguagem se insinua de boca em boca, de fala em fala. Tenório desenvolve um ritmo onde tudo vai se desdobrando na própria narração, o que o aproxima definitivamente da linguagem oral típica dos interiores geográficos - e subjetivos, claro. É uma narrativa viva, que acontece agora. E é por pulsar essa vida que ela ultrapassa qualquer rótulo regional para ser pura invenção – e o faz com rara maestria. “Ô de dentro!” tem essa coisa madura, de uma dureza rigorosa, algo de confrontação direta com o real. Tem a palavra como criação e tensão, desafiando todos os lirismos – e bem aí mora a literatura de Tenório Cavalcanti.
Ficção