Fazendo de certos lugares do Rio de Janeiro pano de fundo para seu romance, Aluísio retrata, em toda a sua nudez, com minúcias pormenorizadas (tão ao gosto do naturalismo) a vida carioca dos cortiços, trazida ao vivo com "o fartum da carne plebéia, o bodum e o visgo sensual da gente do povo", num conjunto panorâmico que assombra. Como bem salientou a eminente crítica Lúcia Miguel Pereira, "só os momentosem que vê o indivíduo em função do meio a que pertence como parte dele, é que o escritos sente-se no seu elemento".
Os personagens característicos ali estão, como um imenso cinemascópio, agindo, pensando, trabalhando, vagabundeando, entregues à sua lascívia, procurando enganar-se uns aos outros - um retrato de corpo inteiro das camadas populares do Segundo Império - cada qual mais típico que o outro, numa mistura desconcertante de almas e corpos: "o vendeiro amancebado com a preta, o capadócio, o capoeira, o português enriquecido, os egressos do cortiço e os mestiços em vias de galgar de posições..."
Literatura Brasileira / Ficção / Romance