"Durante uma consulta no ambulatório de um hospital geral, o estagiário que atendia um menino acompanhado de sua mãe teve de sair da sala por 15 minutos. Ao voltar, olhou para ela e perguntou-lhe quem a estava atendendo. "O senhor." "Não, a senhora está enganada, não fui eu que a atendi." "Mas, doutor, essa é a sua letra e foi o senhor que anotou os dados do meu filho aí nessa ficha."
Este caso abre 'O Corpo em Off' e, junto com outros relatos, dá uma amostra de como certas práticas médicas cientificistas (não) vêem os pacientes: como se fossem apenas órgãos, sem tentar entender a complexidade da experiência do adoecer.
O corpo em off é uma caminhada para entender como esta visão do doente se instaurou, mas, especialmente, como romper com ela e atrair a atenção médica para o corpo do paciente em sua individualidade e integralidade, sem a antiga e ainda vigente divisão corpo/mente, incorporar o saber deste paciente e incluí-lo em seu próprio tratamento, quebrando as divisões criadas pelas especializações, pela rede saber-poder que permeia toda a medicina.