Como em outros romances do autor, este tem um fundo judaico. Contudo, além do universo ficcional propriamente dito, muito poderoso e cativante, acresce-se de uma dimensão paralela, não menos importante: a histórica. [...]
Moacyr Scliar, nesta obra, invade um território bastante delicado: o tráfico de brancas, ocorrido na colônia judaica de Porto Alegre nos idos da década de 30, e, ao mesmo tempo, aponta para a alienação dos descendentes judeus, de segunda geração, que por um lado esquecem suas raízes e por outro não podem libertar-se delas. A partir daí, a imagem das águas se esclarece. [...]
Um tom de irônica ternura o perpassa, alisando arestas e deixando a descoberto uma intenção decidida de denúncia social: com Esther e Marcos, comparsas inconscientes do jogo sujo da vida urbana, Scliar nada mais quer do que expor as diversas qualidades de aviltamento que os indivíduos podem sofrer, no processo puro e simples da sobrevivência.
(Texto retirado das abas do livro; Publicação da Editora Globo)
Ficção / Literatura Brasileira