Nove casas

Nove casas Beatriz Ras


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"Estes escritos de Beatriz Ras impressionaram-me fortemente desde quando ela contou-me, há muito tempo, sobre este projeto — lendo alguns trechos escolhidos. Reservo, para este conjunto de escritos, a denominação de poema, tal como classifica o grande poeta Wlademir Dias-Pino: um texto poético que se expande para além das palavras e incorpora outras linguagens. Em Beatriz, a linguagem da clínica é que se dissolve na arte. De maneira corajosa, a autora sobrepõe o poético à rígida descrição técnica do mundo Psi, seja ela oriunda da subjetividade da psicologia ou da objetividade da psiquiatria. Beatriz começou a escrever este poema enquanto trabalhava em uma casa onde pessoas com dilacerantes vivências psicóticas deixaram os grandes e insanos manicômios, em que moravam por décadas, para exercitarem a experiência de morarem juntos. É dificil para essas pessoas fragmentadas pelos traumas (pela vida) o exercício da empatia com o outro: através da imaginação, penetrar no que o outro sente e voltar para si. Na casa eles são convocados a reconstruir, dolorosamente, essa habilidade humana importante para a sobrevivência psíquica — ela é o caminho da cura. É nesse jogo emocional entre os moradores que Beatriz entra. Ela se vê obrigada a reconhecer-se nesse fluxo de sentimentos e a descrever a realidade de cada morador. Primeiro senti-los, penetrar pela imaginação no mundo em que eles vivem, depois desidetificar-se para traduzir em palavras o retrato de cada um deles. É quando a linguagem poética passa a ser mais eficaz em trazer a semelhança da verdade. Nesse nível de experiência — intensidade de um convívio primário —, as palavras não costumam dar conta de descrever, e o poético vem resgatar.

Ao trazer a clínica para a arte, invertendo o sentido comumente visto nos movimentos de Saúde Mental — em que a clínica apodera-se da arte —, Beatriz é chamada a revelar-se como artista e mostra-se uma poetisa amadurecida. Seus versos são cortantes como uma lâmina a dissecar a solidão de pessoas tantas vezes marginalizadas: pela doença, pela sociedade e pela cultura. Mas não pense, leitor(a), que apenas esse rico processo, vivido por Beatriz de maneira orgânica, é a originalidade deste livro: as experimentações linguísticas ( formais) nos causam um forte e bom estranhamento poético. Ao promover uma aproximação entre a linguagem e o o vivido, trazem nossa imaginação para perto das construções literárias das mulheres do modernismo brasileiro recente: Ana Martins Marques, Ana Cristina Cesar, Rayane Leão…

Com este livro-poema, Beatriz nos fala do quanto a arte é amiga da vida."

[Lula Wanderley]

Literatura Brasileira / Poemas, poesias

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Mariana - @escreve.mariana
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