Ora, se nunca se anunciara com tal fervor a existência de santos suicidas é que nunca antes se oferecera o patronato de um desses santos aos próprios suicidas. Nunca existira um alguém a quem se interceder por essas almas. Alguém que soubesse na carne e no espírito os caminhos e descaminhos que levam ao ato extremo. E é a história desse santo, sua vida e morte, seu polêmico percurso, que aqui se vai relatar. Melhor dizendo, dessa santa, porque cabe às mulheres desde sempre, de Pandora à Eva, a faísca e a subversão, a quebra de valores, a assumida falta de pudores e um extremo gosto pela transgressão. Advirto, porém, que não me venha tomar o leitor como panfletário, um vulgar levantador de bandeiras. Tão somente conto histórias das quais apenas ouvi falar ou que, quando muito, tive discreta, quase despercebida participação. Sou um velho que muito já viu e viveu e que nem sempre consegue escolher ou esconder simpatias e antipatias. Mas garanto que apenas dou conta do que todos dizem ou sabem, embora às vezes finjam que não disseram ou soubessem. E é esse o meu ofício de narrar. Poderia ser outro, mas é esse e dele me agrado.
Literatura Brasileira