“Toda noite e todo amanhecer/ Alguns nascem para sofrer./ Toda manhã e todo anoitecer/ Alguns nascem para o doce prazer,/ Alguns nascem para o doce prazer, sim./ Alguns nascem para uma noite sem fim...”. Os versos da canção que o impetuoso Mike adora ouvir sua doce Ellie entoar simbolizam o contraste insuperável entre pobreza e riqueza, felicidade e cobiça, paixão e traição que Agatha Christie espalha entre as pistas falsas deste romance publicado em 1967. Um lugar amaldiçoado, uma cigana que cospe impropérios e um grupo de personagens ambíguos e ambiciosos agregam outras sombras ao mistério de uma morte súbita. Novato ou veterano, o leitor de Christie sempre descobre que nada é o que parece. Disfarçada de autora inofensiva, a escritora primeiro cativa e, quando já é tarde demais, anuncia que nesta caixa de belos bombons alguns estão envenenados.
Cássio Starling Carlos
Crítico da Folha
Romance policial