Cruz e Sousa é hoje um dos mais conhecidos escritores catarinenses, em função da qualidade artística de seu trabalho. Apenas após sua morte foi sendo, aos poucos, reconhecido pela crítica como o maior expoente do Simbolismo no país, por seu trabalho com a musicalidade dos versos, o misticismo e o hermetismo de símbolos e metáforas. Nascido em Desterro, filho de alforriados, viveu em um contexto absolutamente racista, condição que marcaria sua vida e sua poética, levando-o a se mudar para o Rio de Janeiro no fim do século XIX, onde publicou seus livros de poemas. A obsessão pela cor branca (ou a identidade branca), qualidade essencial à época para aceitação e ascensão social, transforma-se em um dos traços mais marcantes de seu projeto estético, uma escolha que lhe renderia inúmeras críticas sob a suspeita de não valorizar a história de seus antepassados. Ao reunir poemas que evocam o que é ser negro na poesia de Cruz e Sousa, a coletânea organizada pela pesquisadora Zilma Gesser Nunes dirime quaisquer dúvidas, evidenciando como o poeta esteve engajado durante toda a vida na luta pela abolição da escravidão e contra o racismo no Brasil, um debate ainda necessário e atual no país em que vivemos.
Literatura Brasileira / Poemas, poesias