A perspectiva de que as iniquidades de gênero conformam parte essencial da base de uma pirâmide de vulnerabilidade ao HIV/AIDS que as mulheres enfrentam coloca em foco uma outra grande epidemia que atinge as mulheres, esta muito mais antiga e perversa, justamente orque é aceita socialmente em maior ou menor grau, a depender do espaço geopolítico e cultural no qual se localiza: a violência de gênero. A ideia de que muitas questões permanecem em aberto, principalmente quando se trata de evidenciar a inter-relação entre AIDS e violência de gênero tem estimulado a Gestos a pensar mais profundamente sobre os lugares onde essas duas áreas se cruzam, além de discutir sobre as lacunas e desafios relacionados ao tema com o qual temos lidado cotidianamente desde 1993, quando iniciamos o atendimento psicossocial às mulheres soropositivas. Esta publicação representa, portanto, a sistematização de nossas experiências, percepções e, principalmente, da crença de que nenhuma resposta ao HIV pode ser bem-sucedida sem uma abordagem coletiva e integral - gênero, direitos sexuais e reprodutivos, classe, raça (cor) e etnia. Esperamos que ela gere reflexões, questionamentos e a compreensão de que, sem acabar com todas as formas de violência contra as mulheres e meninas, vai ser impossível superar a AIDS.