Por isso, a verdadeira escolha com relação ao trauma histórico não está entre lembrar-se ou esquecer-se dele: os traumas que não estamos dispostos ou não somos capazes de relembrar assombram-nos com mais força. É necessário então aceitar o paradoxo de que, para realmente esquecer um acontecimento, precisamos primeiramente criar a força para lembrá-lo.
Muitos dos relatos sobre a geração 68 repisam os mesmos lugares-comuns acerca do "sentido" de 68, sem levar em conta as enormes diferenças existentes em países em que o 68 aconteceu. As barricadas de Paris, o massacre dos estudantes no México, os levantes de Praga, o primeiro maio de protestos violentos e o início da guerrilha urbana em São Paulo ocorrem em contextos muito diferentes, em países diferentes. É inegável, por outro lado, que a novidade da "revolução de 68" foi a juventude dos protagonistas, a grande emergência dos jovens entre 18 e 25 anos nascidos no pós-guerra e no período da prosperidade capitalista dos anos 50. Este é, de fato, o eixo comum na saída às ruas, na forma de manifestações e panfletagens dos jovens. No imaginário social, reativado com as comemorações dos 40 anos, temos as barricadas de Paris, a passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro e as manifestações contra a guerra do Vietnã, nos Estados Unidos. Digamos que esses foram os momentos gloriosos, consagrados pela imprensa. Mas os momentos de violência, tortura e morte, que parcela da geração 68 enfrentou, são menos conhecidos.