Imagine um livro no qual cada capítulo é um miniconto completo, e esses contos,
sobrepostos, se tornam uma narrativa maior, complexa, formando um épico pós-
-moderno urbano e underground. Agora pense que esses capítulos são como entradas
em um blog e que partes da narrativa são interações com a seção de comentários.
Para completar, ilustre ricamente essa obra com desenhos, quadros, fotografias,
muitas vezes tudo junto, em intercâmbios artísticos que fazem parte da narrativa.
Pronto, você consegue visualizar o que é Lobisomem sem barba, trabalho de estreia
do escritor e artista plástico Wagner Willian, uma ficção de mais de 300 páginas
sobre a vida moderna, repleto de referências a cultura pop, popular e erudita.
O Lobisomem sem barba é antes de um personagem, uma realidade em excesso
e metalinguagem sobrenatural, como se a cada passada de página alisássemos o couro
de um animal selvagem. Na trama, dividida em duas partes, caímos nas graças de uma
escritora e seus afetos, e na desgraça de um pintor e suas crises.
Um trabalho soberbo, com personagens fortes, muito bem definido por Xico Sá
em sua apresentação: “W.W. e o seu duplo, escritor-ilustrador, nos deixa de presente
um imberbe herói moderno em sintonia com os feios, sujos e malvados”.