Rodrygo Raasch 07/07/2020
OH, ADMIRÁVEL MUNDO NOVO – UMA INTRODUÇÃO
Admirável Mundo Novo foi concebido em 1931 por Aldous Huxley, sendo publicado somente em 1932. Trata-se de obra paradigmática que se propõe a fazer uma nova leitura do futuro, dita “distopia”.
À primeira vista o enredo não é apresentado como algo extraordinário, posto a simplicidade dos diálogos e tramas. Contudo, logo se percebe que a sociedade retratada é sem precedentes, motivo que causa estranheza e repulsas ao leitor em um primeiro momento, mas, tão logo superado pela riqueza de detalhes acerca do “condicionamento” da população.
O Romance se passa grande parte em Londres, e em algumas cenas em Malpaís no México. Nesta obra o mundo possui disposição geográfica diversa da contemporaneidade (composta de 192 países reconhecidos pela comunidade internacional) onde o mundo é dividido em 10 regiões administrativas, no qual, são atribuídos o governo aos ditos Administradores Mundiais representado por Mustapha Mond, responsável pela região de Londres.
Na sociedade em questão é introduzido o culto à ciência e a tecnologia, pelo qual foram abolidos qualquer crença religiosa ou costume sedimentar. As leis estão dispostas em um único pilar obrigacional: “os homens devem ser felizes”, está aí, pois, o objetivo e razão de ser da sociedade pós-Ford.
Ainda, em Londres no ano de 632 depois de Ford (DF) não há nascimentos naturais, toda vida humana é gerada em “bocais”, termo utilizado para referenciar as técnicas de reprodução em laboratório. Tão logo que as crianças nascem e começam a se desenvolver o Estado passa a doutrina-las conforme os condicionamentos da sociedade pós-futurista, valendo-se de diversos métodos, entre eles, a hipnopedia que consiste na técnica de repetição de gravações com doutrinas durante o sono das crianças.
Outro ponto importante é o fato de que na sociedade criada por Huxley as pessoas não são iguais intelectualmente e fisicamente, já que durante a gestação nos “bocais” as pessoas são condicionadas a determinadas castas ou condições sociais através de procedimentos capazes de criar discrepâncias físicas entre as disposições sociais. Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ípsilons são as castas sociais onde nenhum indivíduo tem a possibilidade de ascender socialmente.
Consoante noção cediça, o romance narra a insatisfação de Bernard Marx para com o núcleo social em que vive, uma vez que, é obrigado a frequentar inúmeras reuniões e eventos em razão da crença predominante do coletivismo. Pessoas individualistas ou retraídas são denegadas em Admirável Mundo Novo e, tão logo, transferidas para ilhas e pontos isolados do globo terrestre para que não possam influenciar as outras pessoas que estão plenamente inseridas na cultura coletivista.
De encontro ao ponto anterior nos é introduzido a personagem Lenina Crowne que em razão dos diálogos iniciais é possível crer que a mesma sofre da mesma indisposição social que Bernard.
“Todo mundo é de todo mundo” eis a grande frase do romance e lema imponente na comunidade Fordiana. Esta frase reflete talvez o maior condicionamento a que é submetido as pessoas desde crianças, a falta de compromissos emocionais e sexuais com outra pessoa – inexiste casamento ou namoro.
O parágrafo anterior reflete o maior descontentamento aparentemente de Lenina e Bernard com a comunidade, ambos afastam a ideia de ter vários parceiros sexuais em função de suas indisposições para tanto, apesar de, ser inseridos nas suas culturas.
Nesse paradigma, Bernard convida Lenina para passarem férias no México, em Malpaís. Após inúmeros ditames burocráticos, já que ninguém pode viajar para fora de sua região sem a concordância do Administrador Mundial.
Ao chegarem é estabelecido um choque de culturas, visto que, Malpaís é majoritariamente uma comunidade indígena onde os antigos costumes são preservados à risca. Bernard e Lenina encontram no Pueblo o índio John, o único que fala a língua comum dos visitantes e, em razão deste contato surgem inúmeras diálogos, sendo fonte rica a escancarar a dicotomia de culturas. Após certa afeição de Bernard com John, surge a ideia de levar o selvagem (como John é chamado) para Londres, claro, tudo em interesse da ciência!!!
O Selvagem em poucas páginas após a chegada dos visitantes, logo desenvolve maiores sentimentos por Lenina, descrita pelo autor como possuidora de enorme beleza. Entretanto, devido ao condicionamento social a que Lenina fora submetida, esta não se sente a vontade e até mesmo expurga qualquer sentimento ou possibilidade de se vincular permanentemente a uma única pessoa. Surgindo aqui a efemeridade do romance, onde o selvagem é movido pelo desejo de possuí-la, mas ao mesmo tempo teme a rejeição.
Em Londres, o Selvagem ganha destaque de “Pop Star”. Em razão do sucesso eufórico do selvagem, Bernard por ser seu tutor, goza de considerável notoriedade, passando a então demonstrar que está plenamente satisfeito com a sociedade em que reside, tendo desaparecido as insatisfações apresentadas nas páginas iniciais do livro, pois ao mesmo é relatado certo sucesso com encontros “amorosos” (pois “todo mundo é de todo mundo”.
Fato idêntico acontece com Lenina, o livro traz uma lista detalhadas de autoridade ao qual a Sr. Crowne foi se encontrar, apesar dos sentimentos desenvolvidos pelo Selvagem.
O Clímax da obra acontece quando o Selvagem se nega a comparecer a um evento social no apartamento de Bernard ao qual inúmeras autoridades de Londres estão presentes e ávidos para ver John.
A partir de então todo o conto de fadas de Bernard e Lenina despencam, contudo, daqui em diante faz-se necessária a leitura da Obra, o presente resenhista se dá aqui por satisfeito.
Convém observar que a linguagem é acessível e de fácil entendimento, contudo, crítica se faz necessária a um ponto: no capítulo Três tem diálogos em diferentes pontos geográficos sem separação ou indicação dos personagens responsável pela fala, tendo como fruto uma bela mistureba de diálogos de três núcleos em espaços diferentes inseridos em um mesmo texto – É necessário adivinhações para identificar o responsável pelas falas.
Em conclusão, é possível aferir que este livro é leitura obrigatória para todo e qualquer ser humano que se pretende ter leitura crítica da realidade. É quase um livro profético, em que o autor pretende nos advertir dos perigos da ciência desmedida e da sociedade sem sentimentos.
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